Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

A expectativa por um jogo como Manchester City e Liverpool trouxe saudade

Partida lembrou época em que esperar jogo da seleção era como a ansiedade antes do aniversário

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Mais que o jogo, muito bom, a espera do clássico entre Manchester City e Liverpool teve o condão de trazer de volta uma gostosa saudade dos tempos de infância, adolescência, começo de vida adulta e, 
até, da maturidade.

Época em que esperar um jogo da seleção brasileira, mesmo amistoso, na TV em branco e preto, era como a ansiedade vivida antes do dia do aniversário ou do Natal, dias de ganhar presentes.

Ver Pelé, Mané, Didi, Tostão, Gérson, Rivellino, tinha sim gosto de presente, antes e depois do tricampeonato mundial.

Certeza de Maracanã lotado, de jogo bem jogado.

John Stones, do Manchester City, salva gol de Mohamed Salah, do Liverpool, em cima da linha
John Stones, do Manchester City, salva gol de Mohamed Salah, do Liverpool, em cima da linha - Phil Noble /Reuters

A expectativa de um Botafogo x Santos, de Mané contra Pelé, de Nilton Santos contra Dorval, não tinha preço. 

Sem exagero, em nada ficava devendo aos grandes jogos de hoje em dia entre potências europeias. Ao contrário.

Como era impagável ver o Rei contra a Academia palmeirense de Ademir da Guia, ou o Cruzeiro de Tostão e Dirceu Lopes para provar que o eixo Rio-São Paulo tinha mesmo do bom e do melhor, mas que Minas não lhes ficava atrás.

Como o Internacional de Paulo Roberto Falcão, uma década depois, em 1975, ampliava as fronteiras para incluir o futebol gaúcho.

Esperar um grande jogo sempre foi tão bom como o próprio jogo, às vezes até melhor.

Flamengo x São Paulo no começo dos anos 1980 também não era pouca coisa, ao contrário, era muita, com Zico versus Mário Sérgio. 

Ou Zico contra Reinaldo, quando o rival era o Galo mineiro.

Em 1996, durante o Campeonato Paulista, qualquer jogo do Palmeiras, de Rivaldo e Djalminha, era garantia de espetáculo e mesmo quem não era alviverde ia ao velho Parque Antarctica para desfrutar do recital, 27 vitórias em 30 jogos, apenas uma derrota, já campeão estadual, para o Guarani, 102 gols marcados, apenas 19 sofridos.

Tudo isso para dizer que, com certa ajuda das férias do futebol por aqui, aguardar o embate entre Manchester City e Liverpool teve o sabor dessa viagem no túnel do tempo, embora encontros entre Barcelona e Real Madrid também despertem tais reminiscências.

O duelo vital para manter acesa a Premier League até pareceu não estar à altura de tamanha promessa, mas acabou por satisfazer aos mais exigentes paladares.

Ver um time dirigido por Pep Guardiola, cheio de cuidados mesmo em casa, mais preocupado em não dar espaços do que em obtê-los e, depois, 2 a 1 no placar, dar chutões para garantir a vitória vital e impedir o rival de ampliar a diferença para dez pontos foi inesquecível.

Ou ver o time de Jürgen Klopp não se entregar e deixar escapar o empate, até mesmo a vitória, por detalhes como a bola que bateu na trave, ou a que ficou a 11 milímetros de 
ultrapassar a linha fatal ou, ainda, a que Ederson afastou com as pontas dos dedos, fez sentir o gosto pelo jogo vivo e imortal, mais lá do que cá.

Aliás, veremos como será a continuação do Campeonato Inglês, porque mesmo derrotado o Liverpool passou a sensação de estar mais forte e mais organizado.

Ao City parece faltar o brilho de De Bruyne, talvez a chave para o atual campeão poder almejar o bi, desde que o craque belga consiga plena recuperação das lesões recentes.

Oxalá tenhamos Palmeiras x Flamengo assim para matar saudades em 2019.

Enquanto não chega, leia “A transparência do tempo”, livro de Leonardo Padura, pela Boitempo.

Não tem nada a ver com a excelência do futebol, mas tudo a ver com literatura de primeira grandeza.

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