Guardemos todas as proporções, não esqueçamos as diferenças de investimentos, registremos até que gramado por gramado o de Bragança, graças à Red Bull, não é goleado pelo de Anfield, relevemos que a Premier League trata seu campeonato como uma das joias da coroa e a CBF faz do dela fardo tão pesado que não abre mão de sabotá-lo —que o diga o Flamengo.
Importa registrar que o fim de semana de futebol proporcionou dois jogos da melhor qualidade, como é comum na Inglaterra e pouco acontece no Campeonato Brasileiro.
Tanto Bragantino 2, Corinthians 2, como Liverpool 2, Manchester City 2, encheram os olhos e os corações de quem gosta do jogo pelo jogo, independentemente de os resultados finais terem sido justos ou não, porque não foram nem no interior paulista, nem na cidade dos Beatles.
O Corinthians jogou melhor que o adversário e ia perdendo até o 44º minuto do segundo por 2 a 0, quando nos seis minutos finais empatou com dois gols belíssimos de Renato Augusto e Mosquito.
Mesmo que tivesse perdido o corintiano, com um mínimo de equilíbrio, haveria de ficar convencido de que agora tem time para torcer e que dificilmente o G4, ou até o G3, não será alcançado.
Diante de atuação extraordinária do goleiro Cleiton, o Corinthians errou pouquíssimo, principalmente no ataque, quando criou sete chances claríssimas de gol, três delas salvas pelo arqueiro, uma pela cabeça do zagueiro e outra pela trave, duas bem-sucedidas.
O bom futebol do Bragantino não é novidade, o do Corinthians é. E deverá ser cada vez mais daqui por diante.
Uma observação aos intolerantes: ser crítico ao método não impede o elogio ao resultado, mais ou menos como em relação ao magnífico estádio de Itaquera.
Dito isso, voemos ao Reino Unido, onde os times de Jürgen Klopp e Pep Guardiola conseguiram testar a capacidade pulmonar e emocional de quem viu a partida por 94 fabulosos minutos.
A pulmonar porque não dava para respirar; a emocional porque a iminência do gol percorreu o jogo inteiro.
No primeiro tempo quase só do lado azul, que fez por merecer vantagem que o goleiro brasileiro Alísson impediu, e no segundo, rigorosamente equilibrado, quando os quatro gols aconteceram, cada um mais bonito que o outro, o do 2 a 1 para os vermelhos, então, do egípcio Mohamed Salah, para botar placa no estádio.
Nem Maurício Barbieri, nem Sylvinho, tem tantos talentos para botar em campo, embora o Corinthians agora possa mesclar o grupo de veteranos com jovens promissores e a política mundial dos patrocinadores do Bragantino seja a de seduzir a juventude com futebol ofensivo.
O abraço final entre o alemão que dirige os Reds e o catalão que comanda os Blues não precisou de mais nada, nem mesmo precisava do beijo de Guardiola em Klopp: estavam ali dois profissionais que sabiam ter acabado de cumprir fielmente com suas obrigações —mais do que ganhar jogos, dar espetáculo que faça aqueles que o viram terem vontade de ver mais e mais.
Perceba que não está em discussão a questão entre atacar e defender, pois a defesa do Manchester City era a menos vazada e a do Corinthians a segunda dos respectivos campeonatos.
Trata-se apenas de jogar bom futebol, arte que consiste em defender e atacar bem, o que os quatro times fizeram exemplarmente, cada um no seu quadrado. Sem comparações.
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