Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

O que Nadal fez na Austrália merece um livro de Norman Mailer

Faltam palavras à altura aos simples mortais para descrever o duelo dele com Medvedev

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O espanhol Rafael Nadal tem 35 anos. O russo Daniil Medvedev é dez anos mais moço.

Quando começaram a decidir o Aberto da Austrália, em Melbourne, o moscovita era o favorito, segundo colocado no ranking, muito menos desgastado.

Nadal havia se desidratado e perdido quatro quilos nas quartas de final, além de ter pegado Covid em dezembro último e de conviver com um problema crônico no pé esquerdo, responsável pela cirurgia que o manteve longe das quadras no segundo semestre de 2021.

Medvedev lutava pela segunda conquista de Grand Slam e Nadal pela 21ª, para superar os rivais Roger Federer e Novak Djokovic e se tornar o maior vencedor da história.

Rafael Nadal durante jogo em que venceu Daniil Medvedev no Australian Open
Rafael Nadal durante jogo em que venceu Daniil Medvedev no Australian Open - Hu Jingchen/Xinhua

Ambos vacinados, diferentemente da grande decepção sérvia, apelidado para sempre de Djocovid, sobre quem a cada dia se conhecem detalhes deprimentes, seja por suas preferências políticas, sempre pelos autoritários, seja por seus nebulosos negócios.

Medvedev fez 2 a 0 no jogo e, no sexto game do terceiro set, chegou a fazer 0/40 para quebrar o serviço do rival e, provavelmente, tornar a vitória inevitável.

A manutenção do saque àquela altura serviu como senha para o Touro Miura se transformar em fera indomável.

O jogo havia começado às 5h30 da madrugada brasileira e, a partir dali, desafio maior que o dos dois tenistas só mesmo o de tentar dormir e deixar para ver o resultado ao acordar.

Simplesmente impossível tirar os olhos da TV, embalado também pela transmissão sempre informativa, inteligente e bem-humorada da dupla de Fernandos, Nardini e Meligeni.

Ao cabo de 5 horas e 24 minutos, 15 mil privilegiados na Arena Rod Laver, e sabe-se lá quantos milhões de pessoas pelo mundo afora, se comoveram com a virada épica de Nadal, que empatou o jogo em 2 a 2 e buscou a vitória no quinto set, sempre com mais dificuldade para confirmar seus saques que o gigantesco adversário.

Foram 23 aces do russo, contra apenas três do espanhol, o derradeiro, porém, no penúltimo ponto da decisão. Demolidor!

Estivesse entre nós e o imortal papa do novo jornalismo, o americano Norman Mailer, escreveria outro "A Luta", o espetacular relato da decisão entre Muhammad Ali e George Foreman, no Zaire, em 1974, pelo cinturão dos pesos-pesados do boxe mundial.

Lançado no Brasil pela Companhia das Letras, são 272 páginas históricas sobre a chamada "Luta do Século".

Porque faltam palavras à altura aos simples mortais para descrever o duelo entre Nadal e Medvedev.

Pelo que este pobre jornalista se desculpa, não atribui a incapacidade à madrugada insone, e se limita a informar as parciais para a rara leitora e o raro leitor que exigem mais informação e menos literatura: 2/6, 6/7, 6/4, 6/4 e 7/5.

Depois de enfrentar tantas dificuldades, Nadal cogitou a hipótese de se aposentar: "Tive seis meses muito duros. Em termos de vida, não posso reclamar de nada, especialmente nos tempos que estamos enfrentando, com tantas pessoas morrendo ao redor do mundo. Meus meses não foram nada duros comparando com as famílias que perderam pessoas. Isso é duro na vida, não o que eu passei. Mas em termos pessoais, sim, porque todos dias foram uma questão por causa de problemas no pé. Tive dúvidas ainda aqui. Duvidei se estaria aqui", desabafou. Que diferença para Djocovid!

Melhor: na celebração do título, disse que esperava voltar no ano que vem.

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