Pensem a rara leitora e o raro leitor que um dos mais importantes jornais de Portugal pediu ao colunista artigo sobre o dérbi desta quinta-feira (17) na casa verde.
O motivo da encomenda é óbvio: o clássico de maior rivalidade de São Paulo disputado por dois times com técnicos lusitanos — o Palmeiras de Abel Ferreira e o Corinthians de Vítor Pereira.
O desafio estava em escrever no português da Terrinha para que todos pudessem entender.
E pediram comparações, posição por posição.
Assim se fez:
"A começar pelos guarda-redes, o do Palmeiras é melhor, porque Weverton, da seleção canarinha, superou o guarda-meta corintiano Cássio, terceiro reserva na Copa do Mundo da Rússia, como o palmeirense haverá de ser no Qatar.
Além do mais, o pontapé de baliza de Weverton é abissalmente melhor que o de Cássio.
Verdade que faltam às duas equipas avançados que convençam, embora o Palmeiras da presidenta Leila Pereira (nenhum parentesco com mister Vítor) esteja em busca de um 9.
Fazer golos tem sido um sacrifício para o bicampeão continental, também porque muitas vezes atinja o poste.
O defesa-central paraguaio de camisola verde Gustavo Gómez também é superior ao alvinegro Gil.
Nas bolas paradas, principalmente nos pontapés de canto, graças a Dudu e a Gustavo Scarpa, os esmeraldinos são muito agressivos, embora os rivais tenham Willian e Renato Augusto para equilibrar.
Há de se lamentar o facto do jogo ser disputado diante de claque única, apenas para os adeptos do Palmeiras, decisão dos homens da Justiça paulista, sempre de fatos e gravatas impecáveis, raramente capazes de entender a paixão pelo futebol.
Dada a enorme rivalidade entre Palmeiras e Corinthians, assim como se fosse a existente entre Benfica e Sporting, o aclamado dérbi dos dérbis, espera-se a garantia de segurança aos autocarros que levarão os jogadores aos balneários do moderno estádio palmeirense. Oxalá lá cheguem intactos, assim como não haja ataques aos comboios que conduzirão os adeptos.
Mais popular desporto no país, o futebol brasileiro passa por um instante de intensa busca por treinadores lusitanos, apesar de nem sempre compreender as diferenças de tratamento e métodos de cada um deles desde que Jorge Jesus, hoje visto pela claque do Flamengo quase como Dom Sebastião, revelou quão atrasados estão os técnicos nacionais.
Outra vantagem dos anfitriões nesta noite está na eventualidade da marcação de penáltis, porque Raphael Veiga converteu os 19 que cobrou pelo Palmeiras e o Corinthians, que tem em Fábio Santos eficácia equivalente, não deverá contar com seu atleta.
E o trinco Danilo dá de dez em Du Queiroz.
Seja como for, os dois gigantes brasileiros já estão apurados para os quartos de final do campeonato estadual, torneio de difícil compreensão para o público português, excrescência que insiste em sobrecarregar o calendário do futebol brasileiro e manter, no mais das vezes, vazias as bancadas pelos estádios de São Paulo.
Nada que torne menos interessante o embate entre a estratégia geralmente reativa de Ferreira contra o ofensivismo de Pereira.
Aliás, Abel está diante de ótima oportunidade, como se diz no Brasil, para calar os críticos."
Infelizmente, por motivos até fáceis de compreender, o jornal recusou o texto tão chinfrim.
Quem sabe a Folha o aceite.
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