Notem a rara leitora e o raro leitor que há uma insidiosa invasão de times das Séries B, C e D, eufemismos criados para aposentar o que não faz muito tempo era chamado de Segundona, Terceirona etc., em claro desafio às equipes da Série A, antigamente chamada de Primeirona.
Difícil explicar por quê, e talvez o vizinho Sérgio Rodrigues, autor do maravilhoso "O Drible", o melhor romance sobre futebol já escrito na língua português, saiba dizer.
Não, não espere dele a explicação para o que acontece dentro do campo, embora seja bem capaz de ter uma teoria.
Difícil é entender se letras, B, C e D minimizam os numerais que antes definiam o lugar de cada clube nos campeonatos que disputavam.
Mas deixe pra lá o embate entre números e letras, e passemos a examinar o que está em curso neste momento no país nas decisões dos campeonatos estaduais e até mesmo num regional.
Comecemos pelos primeiros.
Tirante o eixo Rio-São Paulo e Goiás, nos quais as decisões envolvem apenas times da Série A —Fla-Flu, Palmeiras e São Paulo, e Atlético Goianiense e Goiás— de norte a sul, de leste a oeste, o que se vê é bem diferente.
No Rio Grande do Sul, Grêmio, da B, contra Ypiranga, da C.
O Inter, da A, vê o rival às portas do pentacampeonato.
No Paraná, o Coritiba, que voltou à A, contra o Maringá, da D, com o Athletico (A) de fora.
Em Minas, o Atlético Mineiro, último campeão brasileiro e da Copa do Brasil, contra o Cruzeiro, em seu terceiro ano na B.
E daí para cima, ou para baixo, como em Santa Catarina, até na Copa do Nordeste, onde Fortaleza, da A, brilhantemente, decidirá com o Sport, da B, não se encontram times da principal divisão nacional.
Ah, sim, no Campeonato Cearense, o Fortaleza enfrentará o Caucaia, da Série D, enquanto o Ceará (A) chupa o dedo.
Verdade que no Brasil Central há outra exceção, com o Cuiabá, da A, contra o União Rondonópolis, que não está nem na D.
Na Bahia, nem Bahia (B), nem Vitória (C) chegaram sequer às semifinais.
A injusta repartição de renda também no futebol brasileiro, causadora, por exemplo, da situação de desalento no futebol pernambucano, é responsável por boa parte da situação ao condenar até quem já foi protagonista ao ostracismo, embora outra boa parte seja culpa do modelo de gestão ultrapassado.
O Cuiabá SAF é prova disso, e tudo indica que veio para ficar, depois de subir em 2020 e disputar sem maiores sustos o Campeonato Brasileiro passado.
Treinadores sincerões
Louváveis as declarações de Abel Ferreira e Rogério Ceni ao imputarem a eliminação do rival Corinthians à diferença entre jogar a semifinal com dois dias de descanso contra quem teve quatro, como o São Paulo.
Alguém dirá que ambos estão se prevenindo de situações futuras que os atinjam, mas não importa, porque têm carradas de razão.
Agora, se a FPF errou ao submeter o Corinthians a tamanho desequilíbrio, e errou, errou mais ainda a frouxa direção corintiana que aceitou calada o despautério.
Tudo somado e subtraído, que a Fiel agradeça o disparate porque, se tivesse se classificado, correria o risco de jogar a final estadual no domingo (3/4) para estrear na terça-feira (5) pela Libertadores. E na altitude de 3.600 metros de La Paz.
Se descansado será dureza enfrentar o Always Ready, cansado seria impossível.
Tite ensinou como fazer diante da Bolívia.
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