Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Neymar é azarado ou ficou frágil?

Mais uma temporada perdida para o craque, fora de um momento de decisão

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Quando Neymar surgiu, chamava a atenção por parecer de borracha.

Por mais que tentassem caçá-lo, os botinudos se davam mal, porque eram driblados e suas botinadas se perdiam no ar.

Quando as alcançavam, o menino Neymar escapava ileso.

O menino cresceu, ficou forte e mesmo que ainda fosse de borracha a joelhada que levou do colombiano Zúñiga nas costas, mais exatamente na terceira vértebra, nas quartas de final da Copa do Mundo de 2014, certamente o teria alijado da trágica semifinal contra a Alemanha.

Zuñiga atinge Neymar na Copa de 2014 - Xinhua/Agencia Estado


Ora, o Rei Pelé saiu ainda antes, no segundo jogo, na Copa de 1962, com distensão na virilha.

Como Cristiano Ronaldo não pôde disputar a final da Eurocopa, em 2016, lesionado no joelho.

Jamais cabe culpar o doente pela doença ou o machucado pela lesão.

Cabe apenas perguntar por que tantas vezes Neymar fica fora de jogos decisivos.

A mais recente contusão deu-se por evidente pancada em seu tornozelo direito, que precisará ser operado, razão pela qual a temporada acabou para ele —e, assim, o sonho e a missão de levar o PSG ao título da Champions.

O menino de borracha virou adulto de vidro?

Muito já se falou de seu estilo de jogo, da busca permanente do enfrentamento, de prender a bola longe da área, de eventuais provocações aos adversários, como o motivo para viver no departamento médico.

No Paris Saint-Germain, então, é um escândalo, ainda mais para quem custou 222 milhões de euros em 2017, a maior transação da história do futebol, embora o técnico do clube, Christophe Galtier, culpe o calendário, não o azar.

Já que seus companheiros Lionel Messi e Kylian Mbappé têm sorte diferente, o treinador passa ao largo.

Maior transação do futebol, nada menos de 222 milhões de euros em 2017, o chamado custo/benefício de Neymar é assustador mesmo para os bilionários sheiks do Qatar.

Afastar a hipótese de que as constantes ausências em momentos decisivos se devem à vida de popstar será, no mínimo, atitude condescendente, assim como atribuí-las ao azar não passará de pensamento místico.

Atleta precisa de vida regrada, de alimentação saudável, de sono reparador, para manter os reflexos em dia, com o que foge das pancadas, e deve assegurar musculatura 100%, além de ossos bem calcificados e ligamentos azeitados.

Se assim mesmo ninguém está imune a um acidente, imagine se vive desregradamente e se submete a choques constantes como acontece no futebol, jogo de contato.

A conclusão parece óbvia e o preço pago por Neymar é alto, embora bem menor do que o pago por quem o contratou.

Azarado não é, ao contrário, tamanha a fortuna amealhada e as emoções já vividas. É bem possível, com a cabeça que tem, que não se arrependa de nada, ao contrário.

Dos 274 jogos que o PSG disputou desde que Neymar chegou a Paris, ele participou de 173 e ficou fora de 104.

Verdade que marcou 118 gols e deu 77 passes para gols, mas a ausência em 38% dos jogos —alguns dos mais importantes da Liga dos Campeões— revela a frustração de sua passagem.

E a mais importante conquista da seleção brasileira na "Era Neymar", a Copa América de 2019, não contou com ele, machucado.

Ganhou, sim, o ouro olímpico em 2016, como ganhou a Libertadores pelo Santos em 2011 e tudo pelo Barcelona.

Mas não deixará saudades na seleção e no PSG, onde só ganhou títulos nacionais.

Jogadores do Bayern comemoram gol contra o PSG em Munique - Odd Andersen/AFP

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