Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Katia Rubio
Descrição de chapéu Tóquio 2020

Punição russa mostra que nem Guerra Fria foi tão poderosa como a Wada

Tentando combater competição desleal, controle de doping virou poder paralelo no esporte

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Não foi sem surpresa que recebemos esta semana a notícia de que a Rússia, como representação nacional, ficará fora da próxima Copa do Mundo de futebol e dos Jogos Olímpicos.

E dessa vez a desculpa para tanto não foi nenhuma ação relacionada à geopolítica internacional, como a invasão do Afeganistão ou de Granada. Ações como essas levaram aos boicotes olímpicos de 1980 e 1984, atestando a proximidade entre a política e o esporte, embora essa relação seja negada quando os interesses atendem a quem não está no poder. Ou seja, nem a Guerra Fria foi tão poderosa como a Wada (Agência Mundial Antidoping).

No princípio dos Jogos Olímpicos Modernos, a incidência de doping era quase nula. Em 1928, a Federação Internacional de Atletismo tornou-se a primeira federação internacional a proibir o uso de doping no esporte. Ou seja, já se percebia que era possível ter vantagem fazendo uso de substâncias ou procedimentos que retiravam da competição a igualdade, um valor olímpico.

Durante a 2ª Guerra Mundial, a anfetamina foi largamente usada para que soldados suportassem a luta. Já os anabolizantes eram aplicados para recuperar os prisioneiros de guerra e sobreviventes de campos de concentração. Seus efeitos não foram esquecidos pela comunidade esportiva, que passou a fazer uso com vistas ao rendimento.

A morte de um ciclista escandinavo durante os Jogos Olímpicos de Roma, em 1960, disparou o alarme do Movimento Olímpico, levando a União Internacional de Ciclismo e a Fifa a iniciaram os seus programas de controle. E nos Jogos Olímpicos do México-1968 teve início o controle dos atletas.

As décadas de 1970 e 1980 foram marcadas pelo uso e controle de anabólicos esteroides. Em 1987, a comissão médica do COI modificou a lista de substâncias proibidas, incluindo betabloqueadores e diuréticos, bem como a transfusão de sangue e a manipulação física da urina. Depois vieram o EPO e o HGH. Diante disso foram adotados os controles fora de competição.

Composta por entes públicos, privados e membros do Movimento Olímpico, a Wada, criada em 1999, iniciou suas ações durante os Jogos Olímpicos de Sydney-2000 –assumiria o controle das ações em Atenas-2004– e produziu o primeiro Código Mundial Antidoping.

Em 2002, publicou a legislação. Por força da lei, muitos países não podem estar legalmente vinculados a um documento não governamental. Em razão disso, foi criada a Declaração de Copenhague sobre antidopagem no esporte, um documento político que sinaliza a importância do reconhecimento e implementação formal do código.

Isso levou os países signatários do documento a se ajustarem a essa determinação para poder competir e realizar competições internacionais em seus territórios.

Se o sistema foi criado para proteger os atletas e o esporte, parece que o remédio se tornou veneno.

Afinal, nenhum atleta se dopa sozinho ou por conta própria. Entretanto, é o único punido quando o teste resulta positivo. Na prática, todo atleta é culpado até que se mostre inocente, uma vez que a regra diz que todos devem saber o que entra em seus corpos.

Tentando combater a competição desleal, o controle tornou-se um poder paralelo dentro do esporte capaz, inclusive, de deixar a potente Rússia fora dos maiores eventos esportivos do planeta. Mas outros países que apresentam doping sistemático continuam reinando.

Instalada no Canadá, a Wada dita as normas de quem pode ou não participar do esporte “limpo”. Resta saber quem qualifica a limpeza desse sistema.

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