Laura Müller Machado

Mestre em Economia Aplicada pela USP, é professora do Insper e foi secretária de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo

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Tempo de trabalho doméstico dos homens com ou sem filhos é o mesmo

A importância da nova política de cuidados: entre as mulheres, dedicação de horas das mães é ainda maior

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Somando as horas da semana dedicadas às atividades econômicas e domésticas, as mulheres trabalham significativamente mais do que os homens. Entre os profissionais ocupados, elas alocam entre 56 e 58 horas, enquanto eles destinam entre 54 e 55 horas semanais.

Será que essa diferença se modifica entre casais com e sem filhos?

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2022 mostram que, sim, existe uma desigualdade entre as mulheres com e sem filhos na alocação das horas de trabalho doméstico. Por outro lado, revelam também que isso não acontece entre os homens.

Mulheres, principalmente as mães, dedicam mais horas semanais aos afazeres domésticos
Mulheres, principalmente as mães, dedicam mais horas semanais aos afazeres domésticos - Getty Images / BBC Brasil

Considerando apenas os casais que exerciam alguma atividade profissional e tinham filhos com mais de 4 anos de idade, a alocação de horas entre as mulheres muda a depender do grupo ao qual pertencem.

Mulheres com filhos dedicam em torno de 20 horas por semana às tarefas domésticas, ante 15 horas entre aquelas que não têm filhos: ou seja, 33% a mais.

Já os homens com filhos alocam em torno de 11 horas por semana nos afazeres da casa, quase o mesmo daqueles sem filhos: 10 horas semanais, ou uma diferença de 10%.

A desigualdade, portanto, é maior entre os casais com filhos na comparação com os demais. Os cuidados estão concentrados nas mulheres, e a diferença é ainda maior quando elas são mães.

O tempo de dedicação às atividades econômicas também é diferente. Mulheres sem filhos alocam cerca de 41 horas por semana nas tarefas profissionais, contra 38 daquelas com filhos. Enquanto isso, os homens destinam em torno de 44 horas semanais, sem diferenciação entre os dois grupos.

Talvez o resultado da negociação intrafamiliar seja a maior alocação de tarefas domésticas para as mulheres pela percepção de que o mercado de trabalho é menos competitivo para uma mulher com filhos. É possível também que essa negociação seja extremamente influenciada por aspectos culturais.

Qualquer que seja a razão, para os homens, o número de horas permanece estável na casa das 10 horas semanais de trabalho doméstico, com ou sem filhos, e estável na dedicação ao trabalho econômico. Todo o ajuste acontece no tempo de dedicação feminino.

Se quisermos cumprir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 das Nações Unidas, que prevê o "alcance de igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas", para a política pública, as implicações são muitas.

A sinalização do mercado de trabalho e do governo de que as mulheres serão tão valorizadas e promovidas por sua competência quanto os homens, tanto em termos de salários quanto da ocupação de cargos de liderança, pode influenciar a tomada de decisão das famílias para que sejam mais igualitárias em relação às tarefas domésticas.

Em termos culturais, por exemplo, uma licença-paternidade de cinco dias está sinalizando que a dedicação deve ser desigual. Normas igualitárias são imprescindíveis para que as decisões dentro das famílias e no mercado de trabalho caminhem para a igualdade.

Esses itens e muitos outros estão comtemplados na proposta da nova política de cuidados em desenvolvimento pelo governo federal.

Normas igualitárias, igualdade de oportunidades no mercado de trabalho e oferta de novos serviços de cuidados podem nos levar a ser um país com mais igualdade e diverso na alocação do tempo. E, tão importante quanto, com um leque maior de serviços e oportunidade de cuidados efetivos, que todos nós já precisamos e iremos precisar cada vez mais.

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