Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

A contabilidade pode ser o castigo de Trump e Bolsonaro?

Nunca teremos o consolo de ver o americano e o brasileiro como réus no Tribunal Penal Internacional

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A Presidência mais criminosa dos Estados Unidos terminou em janeiro passado, com dois impeachments e nenhuma pena de prisão. Por enquanto. A Presidência mais criminosa da história do Brasil está em curso, sem sinais de que Jair Bolsonaro possa ter o mesmo destino de Lula. Por enquanto.

O ex-presidente passou 580 dias preso por obra de um juiz que violou a independência do Judiciário. Nem o fato de que, pela primeira vez na história, aparecem supostas conexões do crime organizado com o Planalto, sugere, no momento, que a Justiça tem encontro marcado com o capitão.

Mas alguma justiça, com “j” minúsculo, precisa ser feita, nos EUA e no Brasil.

O então presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimenta o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, antes de jantar no resort do republicano em Mar-a-Lago, em Palm Beach, no estado da Flórida
O então presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimenta o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, antes de jantar no resort do republicano em Mar-a-Lago, em Palm Beach, no estado da Flórida - Tom Brenner - 7.mar.20/Reuters

Um tabloide nova-iorquino acaba de ter acesso a depoimentos passados do diretor financeiro das Organizações Trump. Allen Weisselberg, 73, já se definiu como “olhos e ouvidos” dos negócios de Trump. Começou como contador do pai, Fred Trump, e, há mais de 30 anos, arruma as cifras do corrupto patrão.

Dois procuradores, de Manhattan e do estado de Nova York, estão examinando essa contabilidade, e a investigação pode resultar em indiciamento criminal por fraude financeira. Não vai ser fácil. Mas a promotoria de Manhattan descobriu uma forma de pressionar o leal Weisselberg a cooperar, como ele já fez no passado sob acordo de imunidade. Desta vez, o filho dele, também envolvido com Trump, está vulnerável, e quem o conhece não acredita que Weisselberg sacrificaria a família pelo chefe.

Observadores veteranos das empresas afirmam que o contador de Trump é a pessoa com maior poder de permitir que alguma justiça alcance o homem responsável pela morte de centenas de milhares de americanos, nos dez primeiros meses da pandemia.

Genocídio é a única, ainda que imperfeita, palavra disponível para designar o que aconteceu, primeiro nos EUA, depois no Brasil e agora na Índia. Três monstros fascistas, governando quase 2 bilhões de pessoas, optaram pela morte em massa como preço aceitável para a ambição eleitoral.

É melhor ver Trump abatido por um cinzento burocrata, já que não há apetite —ou coragem— para buscar sua condenação pelos crimes que cometeu na Casa Branca.

O gângster Al Capone aterrorizou Chicago por sete anos, na década de 1920, mas não enfrentou a lei por mais de 300 assassinatos que praticou ou ordenou. Foi preso e condenado por evasão de impostos documentada por contabilidade forense.

Pode um senador alvo de 17 inquéritos no STF ser o maior perigo no caminho de Bolsonaro? Renan Calheiros estava certo ao dizer que crimes contra a humanidade não prescrevem. Ele sabe, no entanto, que o presidente não teme ser julgado pelos 400 mil cadáveres que o Brasil já acumulou. Não deve haver apetite —ou coragem— para punir o sanguinário Joker da Covid-19.

O verdadeiro bafo quente no cangote do atual morador da “casa de vidro” de Brasília é a contabilidade do combate à pandemia —a trilha do dinheiro e os beneficiados— que será exposta na CPI. Qualquer medida de justiça pode nos ajudar a emergir do pesadelo nacional.

Os crimes contra a humanidade foram julgados primeiro quando os nazistas se tornaram réus em Nuremberg, em 1945. Nunca teremos o consolo de ver Donald Trump, Narendra Modi ou Jair Bolsonaro como réus em Haia, no Tribunal Penal Internacional. Mas algum acerto de contas, ainda que pela via da contabilidade, é um caminho para reparar o horror que espalharam em três continentes.

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