Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

Bolsonaro e Trump deixam sequelas de longo prazo

Manifestações de militares brasileiros sobre a ditadura mostram que entendem tanto de reconciliação quanto os civis instigadores da turba que invadiu o Capitólio

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O início do governo Biden confirma o temor nas tensas semanas seguintes à eleição, que culminaram na violenta invasão do Capitólio em 6 de janeiro. Não há trilhões de dólares que o novo governo despeje na economia para combater desigualdades, promover justiça social ou criar empregos em obras de infraestrutura que possam apaziguar uma parcela dos americanos.

A polarização é o modelo de negócio da ultradireita republicana, cuja viabilidade no poder depende de agitar um eleitorado cada vez menor. Quando o Congresso aprovou o último pacote de estímulo, um republicano do Mississippi votou contra, para logo depois se gabar a seus eleitores sobre as vantagens que o pacote traria ao estado.

Depois do ataque ao Capitólio, usou-se aqui com frequência a palavra expiação. Mas não houve qualquer impulso de redenção na cúpula do Partido Republicano.

Jair Bolsonaro e Donald Trump durante visita do presidente brasileiro à Casa Branca
Jair Bolsonaro e Donald Trump durante visita do presidente brasileiro à Casa Branca - Brendan Smialowski - 19.mar.19/AFP

As manifestações de militares brasileiros, no aniversário do início da ditadura que chamam de redentora, mostram que entendem tanto de reconciliação quanto os civis instigadores da turba no quebra-quebra do Congresso em Washington.

Esforços de se distanciar do extremismo, nos últimos dias, mostram também como os governos Trump e Bolsonaro deixaram feridas que não serão cicatrizadas por um ciclo eleitoral.

No domingo (28), na CNN, a médica Deborah Birx, ex-membro da força-tarefa de Trump no combate à pandemia, confessou o que não teve coragem de dizer nas entrevistas coletivas ao lado do presidente: depois da primeira onda de infecções que matou 100 mil, as 450 mil mortes seguintes poderiam ter sido “substancialmente reduzidas”.

Ou seja, ela atribuiu o sacrifício de centenas de milhares de vidas à negligência homicida de um presidente. Soa tragicamente familiar? O teatro de expiação da doutora Birx causou indignação.

No Brasil, depois da caótica segunda-feira, militares desterrados por Jair Bolsonaro começaram a soprar sua narrativa conveniente. São legalistas que pagam o preço por se recusar a politizar a força ou compactuar com uma aventura golpista. Estavam hibernando nos corredores do poder há dois anos?

O colaboracionismo sob os dois presidentes mais perigosos da história dos EUA e do Brasil não vai ser aplacado por entrevistas, com ou sem proteção do anonimato.

Recentemente, uma parente próxima de um leitor que me escreve com regularidade, um paulista politicamente moderado, disse a ele: “Se Bolsonaro tivesse uma SS, eu denunciava você”. Ela se referia à polícia secreta nazista como solução para discordância política.

Que reconciliação é possível?

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