Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Coronavírus

Primeiro epicentro da pandemia, Nova York teme o outono da variante delta

Cidade que se reergueu orgulhosa dos escombros das torres gêmeas volta a ter medo de um setembro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Os sinais de angústia estão em toda parte. A atriz de um musical, ensaiando a volta ao palco depois de 18 meses de inatividade, caiu em prantos durante entrevista a uma rádio.

Os pais de um milhão de alunos da rede pública de Nova York querem saber se seus filhos vão passar sete horas por dia em uma das milhares de salas de aula que não dispõem de ventilação recomendada pelo governo federal. Empresas cancelam a volta ao escritório marcada para este mês.

Homem, com máscara e guarda-chuva, protege-se de chuva na Times Square, em Nova York
Homem, com máscara e guarda-chuva, protege-se de chuva na Times Square, em Nova York - Andrew Kelly - 23.ago.21/Reuters

Se o 20º aniversário do 11 de Setembro faz os nova-iorquinos revisitarem um trauma, a semana que começa no dia 13 traz incertezas e medo do inimigo que a cidade julgava ter derrotado com uma vacina.

A variante delta, cuja gravidade o governo Biden demorou a levar a sério, é uma sombra sobre o outono americano, a estação que marca o começo do ano letivo e um despertar de atividades culturais tão importantes para a economia de Nova York.

Na primeira pandemia da era da desinformação digital e da saúde pública reduzida à identidade ideológica, é difícil encontrar segurança nos protocolos de reabertura.



Nova York não deve oferecer o espetáculo que temos visto em outras cidades, com pais saindo aos tapas na frente de escolas em disputas sobre máscaras.

Mas o último fim de semana mostrou que os temores de quem será forçado a trabalhar ou estudar em ambientes fechados não são injustificados. Mais de mil pessoas protestaram aqui contra a obrigatoriedade de vacina para maiores de 12 anos em escolas, restaurantes, academias e salas de concerto.

Na terça-feira (31), uma mulher que trabalha numa clínica perto de Manhattan foi indiciada por falsificar centenas de certificados de vacina. Ela já tinha registrado clientes no banco de dados de saúde do estado.

Mesmo com todo acato às recomendações de epidemiologistas, a variante delta desafia os planos de responsáveis por operar espaços fechados. A presidente da liga de teatros da Broadway reconheceu, “há muito que não sabemos”.

O que acontece se um ator ou técnico receber o diagnóstico de Covid em produções como "Rei Leão", que empregam mais de cem pessoas nos bastidores? O espetáculo fecha para quarentena? As grandes produções, com peso relevante nos US$ 14 bilhões que a Broadway traz para a economia local, não têm fôlego para funcionar sem encher a casa oito vezes por semana.

Se continuam de pé é porque o governo despejou US$ 10 milhões por produção da Broadway que saiu de cartaz em 2020, mas o socorro é condicionado às luzes apagadas no teatro.

Com a explosão de infecções por coronavírus entre crianças americanas –as vacinas nos EUA são autorizadas apenas para maiores de 12 anos–, pais estão cada vez mais assustados. O prefeito Bill de Blasio apostou tudo na vacina e retirou a opção do ensino remoto para o outono, numa cidade que tem superlotação de classes em escolas centenárias, com má ventilação.

Um estudo publicado na semana passada pelo CDC, a agência de saúde do governo federal, revela dados assustadores: uma só professora não vacinada na Califórnia, que removia a máscara para dar aula, contaminou metade de uma classe do ensino primário com a variante delta, numa cadeia de infecção que atingiu 27 pessoas.

Nova York, a cidade que se reergueu orgulhosa dos escombros das torres gêmeas, volta a temer um setembro.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.