Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Estimular extremismo é o modelo de negócio do Facebook

Livro de repórteres do New York Times é baseado em quantidade sem precedentes de depoimentos de atuais e ex-funcionários da empresa

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Um livro recém-lançado nos EUA consegue agravar o pessimismo dos que veem no Facebook uma ameaça global à democracia. "An Ugly Truth: Inside Facebook’s Battle for Domination" (uma verdade feia: dentro da batalha do Facebook pela dominação) foi escrito por duas premiadas repórteres do New York Times, Sheera Frenkel e Cecilia Kang.

Não é a primeira radiografia da empresa fundada por Mark Zuckerberg, que, com quase 3 bilhões de usuários, acaba de ser avaliada em US$ 1 trilhão. Mas o livro é baseado em uma quantidade sem precedentes de depoimentos de atuais e ex-funcionários do Facebook.

O dono do Facebook, Mark Zuckerberg, durante depoimento na Câmara dos Deputados dos EUA, em Washington
O dono do Facebook, Mark Zuckerberg, durante depoimento na Câmara dos Deputados dos EUA, em Washington - Mandel Ngan - 23.out.19/AFP

O resultado é um relato preciso das escolhas calculadas feitas por Zuckerberg e seus altos executivos. Na capa, o rosto de Zuckerberg aparece em close-up, e a contracapa é ocupada pelo rosto da diretora de operações (COO) Sheryl Sandberg, ladeado por uma lista de pedidos de desculpas pronunciados por ambos, entre 2006 e 2020.

A falta de sinceridade ou arrependimento por malfeitos que vão de violações de privacidade à cumplicidade na interferência de eleições, passando pela disseminação de desinformação durante a pandemia, é comprovada pelos fatos narrados no livro.

O foco das autoras é no período entre 2016, quando a plataforma foi instrumental para a eleição de Donald Trump, até janeiro deste ano, quando o ex-presidente foi banido de todas as redes sociais depois de incitar a violenta invasão do Capitólio no dia 6 de janeiro.

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Há muito o que digerir, e o livro deve ser leitura obrigatória para legisladores de qualquer país debruçados sobre os dilemas de regular o ecossistema digital. A obra confirma um rumor que o Facebook negou repetidamente antes, sobre o fato de que escondeu do público o que descobriu sobre a interferência russa na eleição presidencial de 2016.

O então diretor de segurança Alex Stamos havia preparado uma seção inteira sobre a atividade de hackers russos financiados pelo Kremlin para o documento oficial. Mas a palavra “Rússia” nem aparece na versão final.

A plataforma havia sido usada para espalhar material que os hackers obtiveram ilegalmente para prejudicar a campanha de Hillary Clinton, e Zuckerberg preferiu mentir para não provocar a ira de Trump e de republicanos que denunciavam o Vale do Silício de preferência pela candidata democrata.

“A empresa acima do país” era o mantra que ele repetia aos empregados nos primeiros anos do Facebook. O 6 de janeiro encurralou Zuckerberg, cuja impunidade em contribuir para limpeza étnica e massacres em outros países do mundo, como Sri Lanka e Mianmar, não tinha o foco merecido em Washington.

Quando o Twitter tomou a iniciativa de banir Trump para sempre após a invasão do Capitólio, o Facebook imitou o gesto com a hipocrisia habitual. Primeiro excluiu Trump temporariamente, depois delegou a decisão a um comitê externo, que chutou a bola de volta para Zuckerberg, que estendeu o exílio de Trump até junho de 2023, por continuar a se mostrar um “risco para a segurança pública".

Mas ameaçar a segurança pública e incitar violência são o modelo de negócios do Facebook. As autoras do livro documentam o quanto funcionários alertaram a empresa para o fato de que seus algoritmos tornam viral conteúdo extremista. Zuckerberg e Sandberg nunca aceitaram rever sua estratégia de crescimento a qualquer custo e dominação.

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