Quem é George Santos? O primeiro deputado republicano gay e filho de brasileiros deve tomar posse no dia 3 de janeiro com um ineditismo extra. O candidato nova-iorquino trumpista, 34, que venceu num distrito afluente próximo de Manhattan, é um personagem de ficção. Às vezes ele se identifica como George Devolder, o sobrenome da mãe, Fátima, que morreu em 2016; outras, como Anthony Devolder, os nomes do meio. Fez campanha como George Santos, afirmando que superou a "miséria abjeta".
No sábado (18), pouco antes de sair uma reportagem devastadora documentando uma carreira de mentiroso serial, Santos se juntou à Coalizão Judaica de Long Island para acender as velas na primeira noite do Hanukkah, a festa também conhecida como festival das luzes.
Na quarta (21), a publicação judaica Forward postou uma reportagem desmentindo a abertura da biografia na página de campanha do deputado eleito, que diz que seus avós fugiram da perseguição aos judeus na Ucrânia, emigraram para a Bélgica e depois para o Brasil. O Forward revelou que os avós de Santos eram os cariocas Paulo Horta Devolder, nascido em 1918, e Rosalina Caruso Horta, nascida em 1927, portanto, antes de os nazistas chegarem ao poder. Batizaram a filha com o nome de uma Nossa Senhora e a página de Fátima Devolder, no Facebook, é repleta de santos e iconografia católica.
Desde que saiu a reportagem no New York Times, repórteres estão atrás do político, sem sucesso. Ele deu sinal de vida na terça (20) num documento arquivado pelo governo da Flórida, ressuscitando a empresa (laranja?) que apontou como fonte do seu súbito enriquecimento. Em dois anos, Santos teria passado de um salário anual de US$ 55 mil a uma receita de US$ 3,5 milhões com a Devolder Organization. O endereço listado é o da casa de um executivo com quem ele trabalhou, numa empresa processada pelo governo federal por um esquema de pirâmide, uma fraude financeira estimada em US$ 17 milhões.
Além de mentir sobre sua formação, as empresas onde trabalhou, sobre ter fundado uma ONG e ser dono de 13 propriedades, Santos afirmou que mora com o marido Matt e quatro cachorros. Mas há uma licença de casamento de George Anthony Devolder Santos com Uadla Santos, emitida em Manhattan, em 2 de agosto de 2012.
O site The Daily Beast revelou que o primo americano de Viktor Vekselberg, um dos mais notórios oligarcas aliados a Vladimir Putin, despejou US$ 38,2 mil em doações à campanha para eleger Santos. O deputado postou ataques à Ucrânia logo depois da invasão russa em fevereiro, e a conexão provocou especulações de espionagem. Mas se George Santos é uma espécie de Candidato da Manchúria, como no clássico romance da Guerra Fria de Richard Condon, em que soviéticos fazem lavagem cerebral num americano, ele parece ter sido programado pelos Trapalhões.
Conversei com uma fonte do establishment republicano que conhece Santos e diz que ele era um fabulista óbvio, um exibicionista que levava amigos para orgias de compras.
De onde vieram os US$ 700 mil que Santos diz ter emprestado à própria campanha? E por que os fatos só vieram a público depois da eleição? Antes, um outro republicano não identificado tinha sugerido a uma repórter que Santos era um Mr. Ripley, o personagem de vários romances de Patricia Highsmith, um impostor bissexual que assassina um amigo e assume sua identidade. Ripley fica milionário, mas o romance sugere que ele vai passar o resto da vida paranoico. Santos só tem documentada uma passagem pela polícia de Niterói por furto, mas dificilmente está dormindo à noite.
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