Qualquer dia em que Donald Trump seja derrotado, nas urnas ou nos tribunais, é um bom dia. Na terça-feira (6), a empresa do presidente mais desonesto da história americana foi condenada por fraude fiscal, e seu pé frio foi mais uma vez confirmado no segundo turno da eleição para o Senado na Geórgia.
Mas ainda que a reeleição do senador democrata Raphael Warnock garanta a maioria mais confortável para a Presidência Biden, não se pode subestimar o declínio cívico nos EUA quando se considera que o pastor batista da Geórgia derrotou um candidato grotesco por menos de três pontos percentuais.
O ex-jogador de futebol americano Herschel Walker, que reside no Texas há décadas, foi recrutado por Trump para concorrer porque, além da fama no esporte, tinha participado do reality show que ele comandava, "The Celebrity Apprentice", há 13 anos. De todos os malignos palhaços trumpistas, inclusive os que perambulam pela Câmara e pelo Senado, o violento e semianalfabeto Walker, que confessou ter recebido o diagnóstico de distúrbio de personalidade múltipla, revelou-se uma usina de escândalos.
O fato de que esteve a pouca distância do Senado é um exemplo de como os republicanos normalizaram a degradação da vida política e acolhem de bom grado figuras do submundo com falsa pose igualitária.
Trump esperneia à medida que perde votos e espaço. Janta com neonazistas, pede a "suspensão da Constituição", coleciona derrotas para os republicanos nas eleições de novembro e promete indulto aos já condenados pela tentativa de golpe do 6 de Janeiro se for eleito em 2024.
Mas ele ainda é o líder do partido e o único pré-candidato declarado, embora dê sinais de que não tem estratégia ou entusiasmo para entrar em campanha. Os republicanos agem como se a solução dependesse de algum fenômeno natural que arranque o fascista do cenário presidencial.
E não é só pelo temor de alienar a ainda expressiva maioria de eleitores republicanos que o apoia. É o fantasma de uma campanha independente, caso Trump não consiga se confirmar candidato na convenção do partido. Ele não atende aliados próximos que lhe pedem para deixar de questionar a eleição de 2020 e deve dizer aos eleitores que uma derrota na convenção será igualmente roubada.
Além de rachar o voto de direita, uma candidatura renegada, em 2024, afastaria ainda mais o crescente bloco de eleitores independentes, que contribuíram para um desempenho melhor do que o esperado entre os nomes democratas neste ano.
Membros da polícia do Capitólio receberam a Medalha de Ouro do Congresso na terça (6), por defender os legisladores na invasão de 2021. Os líderes dos dois partidos na Câmara e no Senado se perfilavam para encontrar os agraciados, entre os quais a família de um oficial morto como resultado do ataque.
Depois de cumprimentar os democratas Nancy Pelosi e Chuck Schumer, eles se recusaram a apertar as mãos do senador Mitch McConnell e do deputado Kevin McCarthy, um notório lambe-botas de Trump.
Eram funcionários públicos de classe média que arriscaram a própria vida para salvar homens que não tiveram a coragem de defendê-los com palavras. Se o 6 de Janeiro não convenceu o Partido Republicano a mudar de curso, o que pode frear a volta de Trump?
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