Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Partido Republicano

Novo presidente da Câmara nos EUA conspirou para roubar eleição presidencial de 2020

Teocrata, ultraconservador e homofóbico, Mike Johnson também agiu para impedir a certificação da vitória de Biden

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A eleição do novo líder da seita, perdão, da maioria republicana na Câmara, o segundo na linha sucessória da Presidência dos Estados Unidos, pode ser em parte explicada por uma pesquisa divulgada na véspera do dia em que todos os deputados do partido-milícia de Donald Trump deram seu voto a um radical que saiu da obscuridade conspirando para roubar a eleição presidencial de 2020.

Mas antes, vamos ao novo presidente da Câmara, Mike Johnson. É a primeira vez que o cargo é ocupado por um político da Louisiana, um estado que, em certos aspectos sociais, judiciais e econômicos, é mais América Central do que América do Norte.

O recém-eleito presidente da Câmara dos EUA, Mike Johnson, fala no Capitólio, em Washington - Chip Somodevilla/Getty Images via AFP

O teocrata, ultraconservador e homofóbico Johnson não só ativamente recrutou colegas de vários estados para promover a fraude das irregularidades na eleição legítima de Joe Biden, como agiu para impedir a certificação da vitória do democrata que ocorreu no 6 de janeiro de 2021, quando o Capitólio foi invadido.

Para se ter uma ideia da atmosfera surreal de erosão democrática neste país, o líder da minoria democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, achou necessário anunciar —três anos depois— e minutos antes de apresentar Johnson, que "Joe Biden venceu a eleição de 2020, e nenhum negacionismo vai mudar esta realidade."

Boa sorte, Hakeem.

Uma nova pesquisa revela que caiu para 38% o segmento da população americana que acompanha notícias com regularidade. Em 2018, mais da metade —52%— dizia seguir o noticiário. A pesquisa do Pew Research Center, divulgada nesta semana, registra o declínio de informação em todas as faixas de idade, embora adultos mais velhos se mostrem mais interessados em consumir conteúdo jornalístico.

Em uma tendência preocupante, depois de anos de obscurantismo trumpista, a queda de consumo de notícias entre os que se declaram republicanos é quase três vezes mais acentuada do que a registrada entre os que se identificam com o Partido Democrata.

Um exame superficial das bancadas dos dois partidos no Congresso confirma o desprezo pela realidade na direita, que, entre outros exemplos extremos, empossou como deputado George Santos, um filho de brasileiros com o currículo quase todo falsificado.

A guerra Israel-Hamas intensificou, nas últimas semanas, a reação do público, cuja fadiga de notícias foi testada em todo o mundo com a pandemia de Covid. É comum ouvir âncoras americanos de rádio e TV introduzirem reportagens de Gaza ou de Israel quase se desculpando pelo desfile de horrores a seguir. O cansaço é compreensível.

O instituto de pesquisas que opero na bancada da cozinha entre o fogão e a geladeira, baseado em cerca de uma entrevista, conclui que a maioria dos deputados que votou "sim" por Mike Johnson não leu uma linha sobre o currículo do calouro fanboy trumpista.

Atribui-se aos italianos um ditado popular —"a ausência de notícia é boa notícia"— que expressa o temor de novos fatos trazerem, quase sempre, complicações. Estamos assistindo ao resultado da experiência de adotar o ditado como um lema.

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