Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho

Despretensão e protagonista fazem de 'Barry' um alívio entre séries pesadas

Bill Hader, que sempre foi um coadjuvante de luxo, foi indicado ao Emmy pela série

Papel do matador depressivo Barry rendeu ao comediante Bill Hader indicação ao Emmy  - AP

Bill Hader sempre foi um coadjuvante de luxo, alçado a um lugar na memória do público por seus nove anos de atuação no seminal Saturday Night Live e por papéis de apoio em comédias como "Descompensada" (2015). "Barry", na HBO, oferece uma janela mais ampla para o talento de um comediante subestimado.

A série —um conto simpático sobre um assassino profissional às voltas com a depressão que acaba por encontrar seu escape em uma escola de teatro em Los Angeles— dificilmente funcionaria com outra pessoa no papel.

Hader, cocriador da comédia com Alec Berg (produtor, entre outros, das ótimas "Silicon Valley" e "Segura a Onda", na mesma HBO), sai de seu habitual registro pastelão/nonsense para dar ao personagem central uma dimensão verossímil e tocante em um roteiro propositalmente repleto de absurdos.

Seu assassino dividido entre criminosos tchetchenos, um professor melancolicamente pedante (Henry Winkler, ótimo) e uma potencial namorada (Sarah Goldberg) pode refletir qualquer um que esteja perdido entre escolhas de vida que deixam de fazer sentido e o risco de uma mudança inesperada de rumo.

Mas "Barry" é uma série despretensiosa, sem figurões nem premissas ousadas ou propostas de debate, algo raro hoje.

Com um humor que vagueia entre ironias sutis e caricaturas (a dos tchetchenos é a mais carregada), consegue extrair sua graça dos dilemas do assassino perdido, que fantasia uma vida onde as coisas sejam "mais normais", embora a ideia de normal varie conforme o indivíduo.

A duração de meia hora e a despreocupação com maiores elaborações, optando por centrar-se nos sentimentos e equívocos do protagonista e em tiradas mordazes sobre nossas aspirações, acaba por tornar o programa reconfortante em um momento em que a TV parece nos fornecer principalmente material para pesadelos (telejornais inclusos).

O papel rendeu a Hader, 40, um reconhecimento há tempos devido: a indicação ao prêmio Emmy.

Ele concorrerá em setembro com um prodígio, Donald Glover ("Atlanta"); um gênio, Larry David ("Segura a Onda"); um especialista em se recriar, Ted Danson ("The Good Place") e com os recorrentes Anthony Anderson ("Black-ish") e William Macy ("Shameless") —os dois últimos poderiam ser substituídos por Thomas Middleditch ("Silicon Valley"), mas já é um alívio não ver "Modern Family" citada.

Embora esta seja a primeira vez que o comediante concorrerá como ator principal, o fã de programas criminais e de Monty Python já guarda um Emmy por uma especialidade, a dublagem de séries e filmes de animação (no caso, de "South Park").

É dele também a voz do protagonista de "Tá Chovendo Hambúrguer" e do Medo no genial "Divertidamente".

Os oito episódios de “Barry” estão disponíveis na HBO Go

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