Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'Olhos que Condenam', na Netflix, serve de resposta para Donald Trump

Momento escolhido para produzi-la e atuações que renderam indicações ao Emmy fazem força da série

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Três dias após o presidente Donald Trump se lançar em vitupérios racistas contra quatro congressistas americanas que representam minorias, a cineasta Ava DuVernay festejava 16 indicações ao prêmio maior da TV, o Emmy, para sua brilhante “Olhos que Condenam” —inclusive para ela, como roteirista e diretora.

Trump, homem branco nascido em Nova York pouco após os Estados Unidos voltarem da Segunda Guerra vitoriosos, e DuVernay, mulher negra nascida na Califórnia quando o país patinava na Guerra do Vietnã e via eclodir o Watergate, são antípodas de igual potência na cultura americana. 

Não é coincidência que se encontrem na história que a minissérie narra, a dos cinco meninos negros condenados, na Nova York de 1989, por um estupro que não cometeram

Trump, já então um milionário do setor imobiliário, viu na investigação do crime um palanque para exigir pena de morte (em desuso no estado) em nome de uma política de segurança mais linha-dura.

Os cinco, porém, eram inocentes. Foram indiciados após terem os nomes citados por integrantes de um bando que promoveu uma espécie de “rolezinho” violento no Central Park em 19 de abril de 1989, quando Patricia Meili, 28, foi espancada, estuprada e deixada para morrer no parque.

Não havia prova de que os garotos fossem culpados, exceto pelas extraídas sob ameaças e sem garantias legais.

Mesmo assim, com pressão da opinião pública, Kevin Richardson, Antron McCray, Yusef Salaam e Raymond Santana foram condenados e cumpriram pena em reformatórios.

Korey Wise, o único com 16 anos, cumpriu como adulto. Em 2002 se soube que o autor do crime hediondo era outro, Matias Reyes, que já estava preso por outros crimes e resolveu confessar. O exame de DNA selou a verdade, e os cinco foram libertados.

Trump nunca aceitou isso. 

A redenção pública que ele negou viria pela série de DuVerney. Claro que o drama não trata diretamente de Trump, embora ela não deixe de mostrá-lo irascível na TV à época. 

Mas, de certa forma, é o momento escolhido para produzi-la, somado às atuações que renderam ao elenco oito das indicações ao Emmy, que lhe dão força. “Olhos que Condenam”, por sua triste universalidade nas Américas do Sul e do Norte, seria importante em qualquer tempo; nesta era de impropérios no Twitter e verdades talhadas a gosto, é mais.

Não é à toa que se pede mais diversidade no showbiz. A história poderia ser contada por outros olhos; mas ter atrás da câmera uma cineasta negra cotando a história de meninos negros e suas mães negras que brigam por justiça faz com que quem experimenta o preconceito se reconheça imediatamente e quem não o enfrenta entenda de cara.

Finalmente, há as atuações. Jharrel Jerome está avassalador como Korey adulto e adolescente; Asante Blackk, que faz o pequeno Kevin, enche qualquer um de lágrimas. 

E Aunjanue Ellis, Niecy Nash, Marsha Stephanie Blake, Kylie Bunbury, que vivem as mães de quatro deles (Raymond Santana perdeu a sua), dão dimensão humana ao efeito devastador que vitupérios podem ter.

Os quatro episódios de “Olhos que Condenam” estão disponíveis na Netflix

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