Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

Em 'The English Game', Netflix une futebol e novelão em drama de época

Autor de "Downton Abbey" assina drama sobre primórdios do futebol profissional

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Não é preciso ser fã de futebol para apreciar "The English Game", minissérie sobre os primórdios da profissionalização do esporte criada por Julian Fellowes, o mesmo por trás de "Downton Abbey" e do roteiro de "Assassinato em Gosford Park", de Robert Altman.

É claro, gostar de futebol ajuda a se interessar mais por ela. Mas entusiastas de um drama histórico também estarão bem servidos.

A especialidade de Fellowes é explicitar os conflitos de classe na Inglaterra do final do século 19 e do início do século 20, da aristocracia decadente e da burguesia industrial incipiente, de barões figurados ou literais com operariado e serviçais. E o futebol, ao menos no nascedouro dos times profissionais, cabe bem nesse retrato.

Desta vez Fellowes e seus corroteiristas nos trazem a história do escocês Fergus Suter, um dos primeiros jogadores a receber para entrar em campo, numa época em que o futebol era reservado a cavalheiros (leia-se ricos ou ex-ricos).

A disrupção que alguém como Suter, uma espécie de Messi da época por sua genialidade tática e agilidade em campo, causou num esporte então dominado pela força bruta se faz sentir até hoje. A entrada do dinheiro também. A cena em que um empresário parece criar a compra de passe com Suter, algo até então impensável, é de uma ironia profunda para quem pensa nas atuais negociações.

Como em tudo que Fellowes escreve, há muita alegoria.

Os times que se enfrentavam eram normalmente oriundos de fábricas (sem estudo) e de universidades (local reservado apenas às elites). Os com-estudo até então prevaleciam; faltava a eles, porém, o jogo de cintura dos menos letrados, entre os quais Suter imediatamente viraria um herói. É uma disputa que se trava até hoje, alimentada por populistas mundo afora.

Para tudo isso o pano de fundo é uma crise aguda na indústria da tecelagem, por séculos um dos principais trunfos da economia britânica.

No enredo, ela se reflete nos jogadores do time da cidade de Darwen e em seus antagonistas, os proprietários da indústria e de títulos de nobreza, Old Etoninans (veteranos do Eton College, até hoje um bastião da elite britânica).

Se os Old Etonians pudessem vislumbrar o que seria o futebol um século e meio depois provavelmente morreriam de pavor. Mas a torcida do Darwen certamente vibraria —já então um exemplo de como o esporte podia fazer se esquecerem da pobreza, da política, dos cortes salariais a que eram submetidos.

O elenco, encabeçado por Edward Holcroft como o capitão etoniano Arthur Kinnaird, Kevin Guthrie como Suter e Charlotte Hope como Alma Kinnaird, a solitária mulher de Arthur, está afiado como em tudo de Fellowes.

As cenas de jogo —a princípio desajeitado, sem esquema tático— são um deleite para quem anda com saudade das partidas ao vivo. Já os conflitos que se desdobram em mansões e casas operárias amenizam a falta de um bom novelão. Tudo isso embalado num texto primoroso, produção cuidadosa, pesquisa história rica e seis episódios. Nada mal para escapismo de pandemia.

'The English Game' está disponível na Netflix

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