Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'Hollywood' projeta aspirações atuais na era de ouro dos grandes estúdios

História de aspirante a ator que trabalha como michê está longe de ser nova, mas verniz acrescentado faz a diferença

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Há muito mais de hoje do que dos anos 1950 em “Hollywood”, minissérie da Netflix assinada por Ryan Murphy que, à primeira vista, recria a era dos grandes estúdios de Los Angeles. Todo mundo quer estar ali, todo mundo quer aparecer, todo mundo quer se passar por algo que não é.

Todo mundo quer ser visto sem ser realmente visto.

Caipira? Omita, finja requinte. Negro? Esconda sua ascendência em laudas de texto impessoais. Gay? Há truques para se manter no armário. Família judia ou asiática? Passe-se por branco cristão, fica mais fácil.

Se Hollywood (a instituição) se alimentou das aspirações e idealizações do público, dobrar a dose e levar essa mesma metáfora a seus bastidores produz um efeito curioso, que fala alto a uma plateia que trocou, nos últimos anos, a fantasia do cinema pela fantasia de intimidade com famosos e famosinhos em rotinas ensaiadas e produzidas para parecer o que não são.

É isso que Murphy e o coautor Ian Brennan, com quem ele trabalhara em “Glee” e “The Politician”, captam na minissérie recém-lançada.

A história do rapaz bonito de talentos parcos que quer ser um astro e de repente se vê trabalhando como michê está muito, muito longe de ser nova. O verniz acrescentado pela dupla a essa premissa surrada, no entanto, faz diferença.

Por exemplo, o protagonista Jack Castello (David Corenswet) não vende seus serviços sexuais em qualquer esquina, e sim num posto de gasolina onde o cafetão Ernie (Dylan McDermott) contrata frentistas bonitos para uma espécie de boy-delivery a anônimos e famosos carentes de companhia.

À sua volta logo estarão outros aspirantes ao sucesso, como Archie (Jeremy Pope), que resiste a pôr sua experiência como negro em seus roteiros, e o diretor Ray Ainsley (Darrenn Criss), que descende de filipinos mas “se passa por branco”.

Há também Camille (Laura Harrier), que não se contenta com os papéis que Hollywood reservava a atores negros, além de um jovem Rock Hudson, este real, porém então conhecido por seu nome de registro, Roy Fitzgerald.

É um grupo curioso de “misfits”, desajustados (outro grande clichê hollywoodiano), inverossímil para quem olhar com a lupa da história. Muito adequado, contudo, para mexer com a própria fantasia do público de que o mundo poderia ter sido diferente e melhor.

Quentin Tarantino fez isso no ano passado em seu “Era Uma Vez em… Hollywood”, imaginando um final diferente para a história de Sharon Tate, atriz assassinada na reta final da gravidez pelo séquito de Charles Manson, deixando viúvo o diretor Roman Polanski.

Murphy também junta gente real a gente imaginária num pretenso mundo melhor, sem a mesma graça que Tarantino.

Ao exagerar na dose de alegorias e apostar numa canastrice aparentemente ensaiada para seu elenco (Criss e McDermott brilham, bem como Jim Parsons na triste pele do agenciador Henry Wilson, mas o protagonista Corenswet naufraga), por vezes cansa.

Se observada mais como espelho do presente do que do passado, entretanto, a série se sai bem. E dá, sim, muita saudade de voltar ao cinema.

 ‘Hollywood’ está disponível na Netflix

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