Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'Boneca Russa' retorna com multiverso expandido, verniz punk e maternidade

Hit da Netflix mergulha em questões existencialistas e relações familiares

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O que sobra numa série de ficção científica se você tirar a "gordura conceitual"? Para a atriz e roteirista Natasha Lyonne, que voltou às telas nesta semana com a segunda temporada de "Boneca Russa", eis a resposta: um personagem em busca de propósito na vida.

O resumo feito em entrevista à revista Variety deixa óbvia a pegada existencialista da série da Netflix, que desta vez explora também as intrincadas linhas da maternidade, do remorso à reconciliação.

Nada disso, entretanto, é feito com pretensão. O registro é o do humor cáustico, a estética vem do pós-punk, e o propósito é divertir.

As perguntas do multiverso de Nadia e Alan, os personagens que ela criou com Amy Poehler e Leslye Headland, não são apenas retóricas. Presos em um looping temporal que os impedia de morrer e os fazia reviver o mesmo dia, a dupla resolveu seu impasse. Nem por isso, contudo, se livrou da confusão que a espreita.

Nesta temporada, o buraco de minhoca leva-os por uma espiral genealógica. Despachados cada um ao passado de suas mães e avós, eles continuam atrás de algo que possam "resolver" —e, assim, melhorar seus futuros/presentes.

Lyonne, que recalibrou a carreira como a Nicky de "Orange is the New Black", empresta outra vez a Nadia sua voz rouca, e agora também a familiaridade com o húngaro (o idioma foi treinado para atuar na produção, embora, como a personagem, ela tenha avós judeus nascidos no país de Bela Lugosi).

Navegando entre os dias da avó na Hungria assombrada pelo nazismo, a Nova York em que a mãe (a ótima Chloe Sevigny) enlouquecia e a Nova York atual, Nadia tenta remendar sua relação com as duas e salvar a madrinha, Ruth (Elizabeth Ashley na maturidade e Anne Murphy, de "Schitt’s Creek", quando mais jovem).

Alan (Charlie Barnett), por sua vez, vai rever o passado da avó, uma emigrante ganesa na Alemanha dividida, e com ele entender seus medos.

Ora drama ora comédia, "Boneca Russa" conjuga a simplicidade e as surpresas que seu título sugere, intrigante e divertido a um só tempo.

Nada aqui é oco como o brinquedo que lhe dá nome —o repertório histórico, cultural e musical das roteiristas, além do humor corrosivo que a atriz talhou às custas de uma série de turbulências pessoais, tornam a experiência de maratonar os sete episódios curtos deliciosa.

Além da trilha sonora generosa com os fãs do pós-punk dos anos 1980, há outros deleites: a Nova York desolada daquela época; a reconstrução dos anos 1940 na Budapeste real que dá origem às personagens; as piadas com um mundo pré-internet acessível.

(Na melhor delas, as pessoas vão à Biblioteca de Nova York com perguntas tolas que hoje fazem ao Google, e esperam por um dia até que a bibliotecária lhes telefone de volta com a resposta).

É sci-fi e filosofia feminista embalados juntos e com uma leveza incomum às duas temáticas. E há material para mais.

A primeira e a segunda temporadas completas de "Boneca Russa" estão disponíveis na Netflix

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