Quando Michael Patrick King decidiu trazer suas heroínas de salto para esta terceira década do século 21, precisou tomar algumas decisões.
Primeiro, não era mais possível contar a história de mulheres bem-sucedidas em Manhattan hoje apenas com personagens brancas, heterossexuais, não deficientes e magras. Daí a ideia exaustivamente comentada na primeira temporada de "And Just Like That", de variar cor de pele, orientação sexual e manequins do elenco central.
A estreia deste segundo ano da sequência de "Sex and the City" deixa evidente outra adequação: os longos diálogos entre as amigas (e coadjuvantes) que deram alma à série original junto com o guarda-roupa excepcional foram transformados em cenas muito mais curtas, com tiradas rápidas que se adaptam à impaciência do espectador alimentado a "shorts" e TikTok.
Se a primeira decisão pareceu louvável embora forçada, esta fere de morte a história de amizade que ainda poderia render bons episódios.
Nem o podcast de Carrie, que assumiu o posto de condutor do enredo, desenvolve uma ideia com começo, meio e as famosas reticências.
Em linguagem tuítica, os dramas que arranhavam o verniz de grifes e vanguarda fashion não estofam as personagens nem para efeito cômico nem para desenvolvimento dramático. Não é culpa do formato; muitos roteiristas criam personagens palpáveis mesmo com edição frenética.
Aqui, é como se Carrie, Miranda e Charlotte —porque Samantha é quase uma ideia no ar— virassem uma caricatura das originais, e as novas personagens servissem ao trio, igualmente rasas.
Aliás, há uma exceção. Carrie (Sarah Jessica Parker) e Charlotte (Kristin Davis) são elas mesmas carregadas nas tintas, e Miranda virou outra coisa. Não porque a personagem se descubra lésbica (ou bissexual, o roteiro não define) ao se apaixonar por Che (Sara Ramírez), humorista não-binária/o.
Despertares tardios acontecem, e a própria Cynthia Nixon, intérprete da advogada ruiva, é exemplo. Incoerente é sua personalidade frágil, um arremedo da mulher determinada que sempre foi. Disposta a portar-se como sombra de seu par, torna-se irreconhecível e insuportável para o espectador.
Não se espera que ninguém assista "Sex and the City" ou "And Just Like That" para pensar nos grandes dramas da humanidade, claro. Na série, o mundo é pequeno. É bom ver roupas bonitas, ouvir conversas sobre relacionamento/sexo e crises profissionais com as quais eventualmente possamos nos identificar, ou só dar umas risadas. Exceto pelo figurino, porém, nada sobrou.
Um bom resumo (numa roupa!) do que a série virou é a tentativa de Carrie de "ressignificar" seu vestido de noiva para o Met Gala —não tema o spoiler, a cena está no primeiro episódio.
Ela veste a peça, joga uma capa azul-pavão feita por uma estilista iniciante em cima para se adequar à ocasião. Ninguém, ao seu redor, liga, nem o espectador.
Entre a nostalgia e a releitura, o vestido de capa é soporífero.
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