Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'Amor e Morte' funde 'true crime' com comercial de margarina

Minissérie de David E. Kelley tem graça pelas cenas de rotina, não pela de sangue

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São Paulo

Sangue à parte, "Amor e Morte" é bem diferente da leva recente de séries "true crime" da qual faz parte, e esse é o melhor motivo para assisti-la. O interesse que desperta, se há algum, é pela vida no início dos anos 1980 em uma pequena cidade texana que prospera com um pé na indústria tecnológica e outro nas igrejas protestantes, uma mistura parte idílica e parte oca.

Esse tom de comercial de margarina, com donas de casa que se vestem com apuro, crianças sorridentes, corais religiosos e casas espaçosas com eletrodomésticos de última geração, traz um quê de Frank Capra (ou de "Mad Men", se você é mais jovem) a um subgênero que costuma ser apresentado com cenários lúgubres e personagens desesperançosos.

É um contraste provocador que tem sido a marca do produtor David E. Kelley, e talvez por isso a personagem central, Candy Montgomery, pareça uma parente próxima da protagonista de outro sucesso do autor, "Big Little Lies".

Mas, embora Elizabeth Olsen, que vivera outra dona de casa secretamente imperfeita em "WandaVision", empreste certo cinismo ao papel, ela fica aquém do que Reese Witherspoon fez com sua competitiva Madeline em BLL. O resultado é que Maddie —a personagem fictícia— é mais verossímil que Candy, a que existiu.

O crime que serve de argumento à série, o assassinato de uma dona de casa por outra após a descoberta de um caso extraconjugal, ocorreu de fato em 1980 e foi amplamente televisionado na época.

Depois rendeu um livro em 1984 ("Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", no qual a série se baseia), filme para a TV em 1990 ("A Killing in a Small Town") e outra minissérie no ano passado ("Candy", com Jessica Biel no papel-título). Como apontou Mauricio Stycer, parece um sinal de esgotamento do subgênero. Seria muito esforço para o espectador guardar alguma surpresa com o enredo.

É no retrato do dia a dia de Candy com o marido, Pat (Patrick Fugit), o amante, Alan (Jesse Plemons) e a mulher deste e futura vítima, Betty (Lily Rabe), que a série ganha vigor, ao jogar com a máxima de que as aparências enganam.

A perfeição da vida de Candy, em termos financeiros, familiares ou mesmo de realização profissional, guardados os limites de local e época, só se presta ao porta-retratos, dentro dela existe apenas o grande tédio de ter a rotina perpetuamente assegurada.

A forma como ela calcula milimetricamente o caso que terá com o conhecido de igreja, os piqueniques que ela embala cuidadosamente para oferecer ao amante em um motel vagabundo, e o sorriso inabalável, tudo denota o enorme sarcasmo que Kelley vem dedicando à vida nos encraves ricos Estados Unidos afora. E é delicioso.

Vale também pela performance sublime e comedida de Plemons, já firmado como um grande nome de sua geração, na pele do pusilânime Alan, o amante inacreditavelmente sem graça que transforma Candy em assassina. Uma assassina encarada como demasiada simpatia, mas, ainda assim, assassina.

A minissérie, em sete episódios, está disponível na HBO Max

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