Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Luciana Coelho
Descrição de chapéu Maratona

'Alguém em Algum Lugar' mostra a amizade como refúgio da vida adulta

Série da HBO estrelada pela comediante Bridget Everett confronta cinismo com delicadeza

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

No argumento, "Alguém em Algum Lugar" (HBO Max), cuja segunda temporada entrou no ar há pouco mais de um mês, é muito parecida com "O Urso": filho/a que deixou a cidade natal para se afastar do passado retorna à família para assumir missão após morte repentina de irmã/o.

Ambas usam de matéria-prima a frustração de se constatar adulto. As duas se apresentam como dramédia (você ri —frequentemente, de nervoso). E tanto uma como a outra conduzem o protagonista por expiações do passado até a redenção de aceitar as raízes com a ajuda de um segundo personagem questionador.

Isso dito, não há nada na série estrelada pela comediante Bridget Everett, contudo, que lembre remotamente a cozinha fervilhante de Chicago onde "O Urso" se desenrola.

Mulher de meia idade loira sorri e olha para o lado esquerdo de lado com um milharal e o céu azul ao fundo; ela usa camiseta azul escura, camisa xadrez e é um pouco obesa
Bridget Everett como Sam no cartaz de 'Alguém em Algum Lugar' - Divulgação

Situada em uma cidadezinha ironicamente chamada Manhattan, de onde a heroína parte (por poucos quilômetros) a fim de enterrar memórias ruins, "Alguém em Algum Lugar" se ampara na amizade entre Sam (Everett) e Joel (Jeff Hiller), o que abre espaço para longas divagações intimistas entre dois personagens deslocados no contexto conservador e bucólico do meio-oeste americano.

É por essas conversas, que muitas vezes recaem em um nível "Seinfeld" de cinismo, que o espectador é convidado a se identificar com os dilemas dos personagens centrais, ambos na casa dos 40 e poucos: O que você fez com a sua vida até agora? E, mais importante, como pretende levá-la daqui por diante?

Sam vê o copo meio vazio, sempre tarde demais para mudar o rumo ou mesmo aproveitar a viagem; Joel devolve o copo meio cheio de quem não precisa realizar sonhos porque o sonho é o fim em si. A vida tem dias de Sam e dias de Joel em sua infinidade de momentos comezinhos que a produção tão bem retrata, o que torna a catarse certeira.

Os roteiristas Hannah Bos e Paul Thureen usam da própria história de Everett (ela nasceu na mesma Manhattan que dá palco à série e lá viveu antes de estourar na ilha nova-iorquina que leva o mesmo nome) e fazem um trabalho excelente em conduzir com sutileza uma trama em que a ação é pouca para que os personagens, em suas muitas nuances, sobressaiam.

Joel é gay; Sam é gorda e solteira e sem filhos; nenhum é o que aquele meio onde foram criados esperava deles. Seus amigos são desafios insistentes aos estereótipos, gente com percepção de mundo aguçada metida num dia a dia muito sem graça, que encontra realização na festa, nos amigos, na música (Everett, que se dedicou à ópera, é uma cantora maravilhosa).

É um Kansas com furacão apenas metafórico, onde a ideia idílica de que não existe lugar melhor do que a casa da gente é ora um conforto, ora uma ameaça. Depende do que se considera casa.

As duas primeiras temporadas de "Alguém em Algum Lugar", com sete episódios de meia hora cada uma, estão disponíveis na HBO Max

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.