Luiz Horta

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Frango assado é como pizza, mais que comida, faz parte do calendário

Prato do restaurante Mesa III agora é servido diariamente

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Frango caipira assado do Mesa III, em Pinheiros
Frango caipira assado do Mesa III, em Pinheiros - Lucas Terribili/Divulgação

Uma das primeiras dessas colunas foi sobre meu drama na época, quando fechou meu endereço certeiro para o frango semanal, chamado Nossa Granjinha, perto de casa, desde 1967. Fecharam porque cansaram, depois de milhares de frangos deliciosos vendidos. 

Pedi dicas aos leitores, que acolheram com generosidade este meu desamparo. Provei vários dos endereços sugeridos. Gostei de muitos, até descobri um tradicional lugar na Vila Mariana, que valeu um texto e muitas idas até lá. Comi um franguinho delicioso feito pela Ana Soares do Mesa III, mas ele só era vendido no cardápio de sábado.

Agora, passa a fazer parte do menu diário. Pode vir embalado para ser terminado em casa (uma rápida passagem pelo forno faz a mágica) e me senti redimido, achei o meu frango favorito depois de quase dois anos de procura.

Frango assado é uma lei para mim, com farofa. Como, sem falta, uma vez por semana. Quando não acho um bom, faço o meu galeto na panela de pressão com limão em conserva (siciliano, que tenho sempre na geladeira). Agrada bem, apesar de não ser bonito ou fotogênico.

Quando estou fora do Brasil, o que me faz falta é empada, quibe (como feito aqui) e farofa, porque frango assado é universal, pelo menos na parte do universo que frequento. Sou muito flexível, moro onde for e me adapto aos hábitos locais facilmente —vivo sem arroz com feijão numa boa. Mas não me privem de farofa, que considero a maior contribuição gastronômica brasileira ao mundo. Em Londres, num período que passei lá, achei uma lojinha de um português que vendia, para os expatriados nostálgicos, coisas brasileiras: guaraná, goiabada, paçoquinha e a preciosa farinha de mandioca.

Voltar a ter um frango assado no mapa me aconchega, recoloca uma constante de normalidade no mundo atrapalhado da atualidade.

Frango assado é como pizza, mais que comida, faz parte do calendário, marca a passagem das semanas, pontua os dias: “lembro que foi naquele dia que o frango veio com uma coxa extra”, frases assim. Posso escrever minhas memórias usando frangos e pizzas. Não seria interessante, mas certamente de grande valor afetivo para mim.

O que é um bom frango assado? Ele está macio e úmido nas carnes, a pele é crocante, o tempero se distribui por todas as partes por igual (a paciência de uma boa marinada, longa e com tudo no ponto, sal, ervas que se queira, vinho, cada um tem sua receita)? Nem precisa estar fervendo, afinal, é comida de mesa ou de piquenique, tem apenas que manter sua compostura, mesmo frio. E sobra para desfiar e virar um risoto, um arroz de forno ou uma canja.

Empadas do Mesa III, em Pinheiros
Empadas do Mesa III, em Pinheiros - Lucas Terribili/Divulgação

Temporada de chá

Período favorito do ano, abro a estação de chá com empadas. Uma das minhas combinações favoritas. Mas é o grande chá. Leva uma taça de champanhe na entrada e um vinho do Porto no final, com a torta.

Aproveitei o tema do frango e trouxe algumas empadinhas de Ana Soares, palmito, camarão e as de queijo, que na minha remota infância se chamavam ramequins, acho que pelas forminhas em que eram assadas.

Chá é uma das minhas bebidas favoritas, tomo durante o ano inteiro. Com o inverno, volto ao ritual de bule, xícaras bonitas e empadas. Andei experimentando a infusão a frio —“cold brew”. Coloco em garrafas (podem ser de vinho, vazias) na geladeira, as folhas do chá escolhido, cerca de duas colheres de chá por garrafa de 750 ml. Deixo oito horas lá, o resultado são líquidos mais delicados, com menos adstringência, e existe a facilidade de estarem sempre prontos para beber. Faço três de cada vez, com isso tenho uma opção (um floral, um darjeeling e um verde). Mate queimado tem sido frequente, o Yerba Bar vende um delicioso.

Aprendi recentemente um outro tipo de infusão, no calor, mesmo processo da feita a frio, mas a garrafa fica no sol. Ainda não testei. O vinho do porto é um mimo no final, uma fatia de bolo e um copinho pequeno, só para esquentar os espíritos. Esta pausa da tarde muda completamente o ritmo do dia.

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