Luiza Duarte

Correspondente na Ásia, doutora em ciência política pela Universidade Sorbonne-Nouvelle e mestre em estudos de mídia pela Universidade Panthéon-Assas.

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Luiza Duarte

Por apoio à China, negócios viram alvo em Hong Kong

Lojas e marcas entram na mira de manifestantes após expressarem posição política

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Hong Kong

Prateleiras no chão e quilos de produtos inutilizados espalhados pela rua. “Nós nunca roubamos. Nós não perdoamos. Nós não esquecemos”, diz o cartaz colado na porta de metal arrombada do pequeno mercado Bestmart 360º.

Do seu lado esquerdo, fica um restaurante cantonês e, do direito, uma loja de sobremesas —ambos abertos e com clientes. O ponto comercial que fica na parte continental de Hong Kong foi um alvo escolhido a dedo pelos manifestantes contrários ao governo.

O texto deixado no local explica que essa é uma retaliação direta contra a recente ação violenta supostamente perpetuada por chineses da província de Fujian em um bairro residencial de Hong Kong.

A preocupação em justificar e explicar a depredação como pontual é uma tentativa de garantir apoio popular e servir de contraponto à narrativa da mídia estatal chinesa, que enfatiza o caráter violento, indiscriminado e radical dos manifestantes. 

Grupos pró-China pressionam para que a opinião pública condene o quebra-quebra no centro financeiro asiático. 

A mobilização civil pela manutenção da autonomia do território chinês caminha para o quinto mês ininterrupto. 

Além de pontos de ônibus, grades e sinais de trânsito destruídos, negócios e marcas ligadas à China vêm sofrendo boicote e vandalismo. Declarações dadas por representantes de redes locais dos restaurantes Yoshinoya, Genki Sushi, Maxim’s e do Starbucks colocaram os estabelecimentos na mira. 

Além disso, muitas outras lojas foram invadidas e pichadas, como a livraria China HWA Book. O local teve a vitrine quebrada e foi marcada com as frases “fonte de renda da China nazista (Chinazi)” e “propaganda do Partido Comunista Chinês”.

As empresa mantidas diretamente pelo governo são mais visadas. Diversas agências de dois dos maiores bancos da China —o CCB (Banco de Construção da China) e o Banco da China— foram destruídas e tiveram caixas eletrônicos queimados por coquetéis molotov. 

O metrô de Hong Kong, que depois de ser acusado de compactuar com manifestantes passou a suspender operações em dias de protestos e virou palco de cenas de violência, também teve dezenas de estações danificadas.

A elite local navega com dificuldade entre o crescente sentimento popular anti-China em Hong Kong e a dependência de boas relações com a vizinha continental, um mercado maior e mais lucrativo. 

A grande insatisfação política e a falência do atual sistema político do território alimentam a fúria contra os chineses, um antagonismo embebido em preconceito, rivalidade e sentimento de superioridade.

 JP tem 40 anos, é taiwanês e vive com a esposa há dois anos em Hong Kong. Eles moram em Mongkok e observam o estrago gerado depois da passagem de manifestantes por uma das principais vias de Hong Kong.

Vandalizar “é uma maneira de liberar a raiva, de expressar o que sentem diante da liderança do governo. Eu sinto que é a batalha final para os honguecongueses. Não há mais nada que os jovens daqui possam fazer e se não fizerem nada, o jogo acabou”.

A pequena parcela do movimento que se radicalizou quer quebrar para se fazer ouvir, quer gerar prejuízo e resistência visível à repressão policial e à falta de soluções políticas. Desde junho, mais de 2.000 manifestantes foram presos, pelo menos um terço deles são adolescentes.

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