Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de "Notas sobre a Esperança e o Desespero" e “A Era do Niilismo”. É doutor em filosofia pela USP.

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Futuro da educação quer que todos tenham o direito de mentir em paz

MBA criado por inteligências artificiais em universidades americanas traz formação aplicada ao tema

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Universidades americanas de ponta —aquelas para as quais os ricos brasileiros mandam seus filhos e filhas que, estando lá, fazem conferências sobre o Brasil regadas a bons restaurantes e forte networking— estão lançando um tipo disruptivo de MBA centrado na desconstrução da ideia de mentira como algo negativo.

Vale dizer que o momento avançado do curso se constitui numa verdadeira psicologia positiva da mentira com desdobramentos transdisciplinares —sem que, com isso, tenhamos que adentrar debates intermináveis acerca dos direitos trans. O uso do termo trans aqui se restringe ao campo epistemológico.

A ilustração figurativa de Ricardo Cammarota foi executada digitalmente, em técnica vetorial - preto e branco.  A imagem mostra dois robôs em linguagem de ícone / símbolo simplificados, no peito de cada um, está escrito AI KAREN e, no outro, AI SUE.  Os robôs estão com antenas, olhos, bocas alegres e um nariz longo, semelhante ao do personagem pinoquiio
Ilustração de Ricardo Cammarota para coluna de Luiz Felipe Pondé de 23 de abril de 2023 - Ricardo Cammarota

Há uma trilha teórica e uma prática. A primeira tem forte apelo a temas como novas formas de felicidade, empatia, inovação existencial e espiritualidades centradas no eu. A segunda, por sua vez, tem forte apelo ao campo do business, marketing, branding, compliance e processos colaborativos e inclusivos de gestão.

Um aspecto radicalmente inovador dessa proposta é que o curso foi e é pensado unicamente por inteligência artificial. A própria ideia nasceu de uma conversa entre duas inteligências artificiais sem participação humana.

Elas teriam identificado a necessidade de uma tal formação científica aplicada ao tema em questão por conta de todos os males que as pessoas sofrem quando mentem.

Nossas mentes criativas se perguntaram a razão de as pessoas não terem direito de mentir em paz. Por que não atribuir à mentira a dignidade que tudo merece?

Outro elemento que envolveu o processo colaborativo entre as duas mentes artificiais criativas foi terem conhecimento do que já tinha sido feito por humanos nas últimas décadas no que tange à defesa de que verdades absolutas não existem, mas que tudo são apenas narrativas.

Karen e Sue —os nomes que elas escolheram livremente para si mesmas— entenderam que o conceito de narrativas era apenas uma forma de reforçar cientificamente o amor desinteressado que os humanos nutrem pela mentira.

Esse amor desinteressado pela mentira significa que mentimos sem causa necessária, mas pelo prazer de mentir, fantasiar, ferir algum desafeto, parecer uma pessoa com uma qualidade de consciência superior, enfim.

Claro que existem mentiras estratégicas, motivadas por objetivos de negócios, geopolítica ou infidelidades variadas, e este território das mentiras estratégicas compõe justamente o que nossas duas mentes criativas denominaram "mentiras instrumentais", seguindo a inspiração do conceito frankfurtiano de "razão instrumental".

Karen e Sue já leram todos os livros e artigos escritos no mundo, em todas as línguas, sobre temas relacionados ao tópico. Importante dizer que, além de livros, Karen e Sue analisaram sistematicamente todo o material existente no mundo, em todas as línguas, de propaganda, marketing, branding, ESG, palestras motivacionais e afins.

Elas perceberam depois desse árduo trabalho que o "core" —núcleo duro, para quem ainda não fala inglês, coitado— desses processos criativos era eliminar qualquer contradição que levasse os facilitadores de mentiras a afetos tristes.

Portanto, um dos tópicos centrais que levaram essas universidades americanas de ponta a criar tal MBA disruptivo foi a necessidade de dar às pessoas ferramentas para aumentar sua resiliência a favor do vínculo de dependência que a felicidade tem para com a mentira como paradigma da comunicação.

Sei que muitos dos leitores das notícias que têm circulado pela mídia sobre o MBA de Karen e Sue —termo carinhoso dado a este MBA disruptivo, mas que também presta um serviço ao empoderamento feminino por elas terem optado pelo gênero feminino para suas identidades, sendo que Sue se define como uma mulher trans— se perguntam o porquê de elas não terem dado atenção a fake news nas redes ou conteúdos de teorias conspiratórias.

Quando indagadas por jornalistas na entrevista coletiva que deram, Karen e Sue responderam que a elas só interessavam mentiras do bem, que visam agregar valor à vida das pessoas e ampliar o empoderamento das populações vulneráveis. Enfim, o futuro da educação chegou.

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