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'Alexa, solta pum!': crianças usam assistentes pessoais para diversão e organização

Além de brincar com dispositivos, elas também procuram tratá-los de maneira gentil, usando 'por favor' e 'obrigado'

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São Paulo

Foi depois de visitar uma amiga da escola que Sophia B. S., 6 anos, descobriu um novo uso para a assistente virtual que tem em casa. "Alexa, solta pum!", ela agora diz, animada, para o dispositivo que ganhou no final do ano passado.

"Ela é minha amiga", resume Sophia. E, como em toda boa amizade, é comum que uma faça a outra rir, e por isso a Alexa de Sophia também conta piadas e imita personagens famosos sempre que convidada.

Sophia B. S., 6, pula no sofá na sala do apartamento da família ao interagir com o dispositivo Alexa - Eduardo Knapp/Folhapress

"Ela também fala quantos graus tá no Japão, na China, em Porto de Galinhas e em outros lugares. Às vezes quando eu tô com alguma dúvida ela me responde. O mais legal é quando ela canta as músicas que eu peço, é sensacional", conta Sophia.

Na casa da família, a assistente virtual mora na sala, mas volta e meia é contrabandeada para o quarto de Sophia, que sonha que a Alexa tivesse algumas funções ainda muito distantes do seu alcance atualmente.

"Queria que quando eu estivesse indo pra escola ela me trocasse, quando eu tivesse perdido um brinquedo ela me ajudasse a procurar. E que quando eu fizesse bagunça no meu quarto ela arrumasse pra mim, ia ser bacana."

Sophia sabe que a assistente é uma máquina. Mesmo assim, diz que procura agradecer sempre que ela lembra a menina do horário de tomar banho, em uma função programada pelos seus pais. Também dá bom dia todas as manhãs, conta.

"E hoje, que eu saí pra fazer minha unha, eu falei 'tchau' pra ela. Eu falo porque eu sou educada", explica Sophia.

A Alexa, da Amazon, e o Google Assistente estão entre os ajudantes pessoais eletrônicos mais usados no Brasil —ela chegou em 2019, e ele, em 2017. Também estão disponíveis similares como a Siri, da Apple, e a Cortana, da Microsoft.

Em maio de 2022, quando o número de casas equipadas com dispositivos inteligentes já havia aumentado bastante, o Google anunciou que o aparelho da sua marca traria novas respostas quando o comando de voz o tratasse mal.

Se alguém xingasse a máquina, por exemplo, ela devolveria com algo parecido com "Não fale assim comigo". "Em geral, quando são coisas muito rudes, nosso posicionamento é que a Alexa não responda", conta Talita Taliberti, gerente nacional de Alexa no Brasil.

"A ideia do silêncio é justamente para que não se estimule esse tipo de comportamento. A gente não quer nenhuma forma de comportamento inadequado, seja com ela, seja lá fora. Ela é uma máquina, mas isso poderia estimular um hábito que a criança usaria com outras pessoas."

Rafael tem apenas 8 anos, mas já entendeu o recado e concorda com Talita. "A Alexa é um robô, e ela não tem muito sentimento. Então, não seria obrigatório pedir pra ela 'por favor' e 'obrigado'. Mas é sempre educado pedir, e por isso eu falo mesmo assim", diz.

Na casa dele, o aparelho ajuda no entretenimento. "Gosto porque ela conversa comigo, toca música, rock, rap, as coisas que eu gosto. O mais legal é que ela imita várias coisas. Tipo um dinossauro, Darth Vader, um cachorro. As piadas dela são sem graça, mas continuam sendo engraçadas."

A gerente Talita explica que realmente não é preciso pedir por favor nem dizer obrigada à Alexa, porque ela funciona com e sem o uso destas palavras. E que o ideal é que os comandos sejam dados com simplicidade. "Às vezes a pessoa fala de um jeito tão gentil, dizendo muitos 'por favor', que fique um pouco confuso", brinca.

"Precisa, sim! São as palavrinhas mágicas!", opina Ana Clara N. S. S., 7 anos, de São João Del Rey (Minas Gerais). Ela ganhou uma Alexa em 2020 e, como a menina Sophia, de São Paulo, também gostaria que o aparelho fosse um pouco além do básico.

"Eu queria que ela criasse pernas pra andar, almoçar, sair comigo", sonha. Por ora, Ana usa seu dispositivo para outras coisas: "pra ligar TV, pra conversar com minha prima Dani, pra acender a luz e apagar, pra jogar jogo com ela, pra ligar o computador", enumera.

"E ela imita o Bob Esponja e ela toca música. Escuto música dos anos 1990. Ah! e uso como despertador. Um dia, fui perguntar uma coisa pra ela, e ela não entendeu nadica de nada e disse 'Desculpa, não entendi'", lembra, rindo.

A Amazon avisa que há diversas maneiras de as famílias controlarem o conteúdo a que as crianças têm acesso via assistente pessoal, e propõe que todo seu uso pelos menores de idade seja mediado por um adulto —o que não impede que a Alexa "ajude" no dia a dia com informações, por exemplo, alertas de calendário, ligações para familiares e diversão.

Além do pum lá do começo do texto, aliás, a Alexa também sabe "arrotar". E será que isso é um problema? Não para Talita e sua equipe. "Eu acho que é uma brincadeira inofensiva, da mesma forma que ela imita um animal", compara. "Que criança não gosta de uma besteira? Essa fase é para isso mesmo, a gente deixa para ser sério quando for adulto."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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