Lygia Maria

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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Descrição de chapéu Rússia União Europeia

Lula envergonha o Brasil

Analogia entre Israel e Hitler é acinte à lógica e à história que serve apenas para incitar polarização e antissemitismo

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Se o mundo físico é regido pela lei da gravidade, o mundo virtual segue a lei de Godwin, que postula: "À medida que uma discussão online se alonga, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou os nazistas tende a 100%".

Essa constante universal da internet, criada como sátira pelo advogado Mike Godwin em 1990, descreve aquele momento lastimável em que um debatedor perde o debate.

Findados os argumentos sensatos para provar determinado ponto, acaba-se descambando em Hitler ou no Holocausto. Trata-se de um desespero retórico que apela a emoções exageradas e ao lugar-comum. Afinal, exceto alguns sociopatas, ninguém gosta de nazismo.

Lula, um homem idoso branco, com barba e cabelo brancos, veste terno preto, camisa branca e gravata roxa, e está sentado em um plenário
O presidente Lula, durante assembleia em Adis Abeba - Michele Sapatari - 17.fev.24/AFP

Banal nas redes sociais, tal recurso não é lá muito indicado para figuras de autoridade, principalmente de relevo internacional. Mas o presidente do Brasil resolveu inovar e, durante evento na Etiópia, disse que só há um paralelo na história para o que está acontecendo em Gaza: aquilo que Hitler fez com os judeus.

Lula foi parar na lei de Godwin sem escalas. Poderia ter se saído bem com argumentos legítimos, como comparar aos crimes de guerra ora perpetrados pela Rússia na Ucrânia ou ao genocídio em Ruanda, que ceifou cerca de 800 mil vidas.

Mas nesses casos não agradaria à militância de esquerda, que, com seu antiamericanismo datado, venera a autocracia russa e sonha com a ascensão de um fantasioso "Sul Global".

O Holocausto foi evento excepcional. Nunca foi criado um aparato de matança em escala industrial que dizimou tanta gente em tão pouco tempo como na Alemanha nazista.

Já Israel foi brutalmente atacado e respondeu. De fato, há ações de seu exército que são bárbaras e condenáveis, com mortes de civis palestinos, inclusive mulheres e crianças.

Mas, para criticar o descalabro em Gaza, não é preciso aviltar a lógica e relativizar o Holocausto só para afagar a militância. Ao cair na lei de Godwin, Lula apenas incita polarização política, antissemitismo e, de lambuja, ainda envergonha o Brasil.

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