Causa espanto que bancas em universidades brasileiras avaliem cor da pele, cabelos, nariz e lábios de jovens aprovados pelo regime de cotas.
Essa análise fenotípica remete a tribunais raciais de regimes eugenistas. Se em teoria tal recurso já é imoral, na prática está fadado a erros temerários, ainda mais num país altamente miscigenado como o Brasil.
Não à toa, neste ano a USP recebeu 204 recursos de candidatos que tiveram a autodeclaração racial negada.
Se o objetivo é diminuir desigualdades e preconceitos, a reserva de vagas para estudantes da rede pública oriundos de famílias de baixa renda seria suficiente. Mas a mera tentativa de debater o tema já recebe a acusação de racismo. E essa é a faceta nefasta do discurso identitário.
No excelente "Racismo Woke: como a Militância Traiu o Movimento Antiracista", Jonh Mcwhorter, professor da Universidade Columbia, disseca o problema a partir de várias áreas, entre elas, a de cotas.
Segundo pesquisas apresentadas pelo autor, que é negro, alunos de minorias étnicas matriculados em instituições de elite tendem a apresentar baixo rendimento e a desistir da formação, o que não ocorre em universidades preparadas para suprir as lacunas deixadas por uma formação escolar precária.
Por isso, Mcwhorter propõe ações de fato efetivas: investir na educação básica e "superar a ideia de que todos devem ir pra faculdade".
O Brasil gasta US$ 14.735 por aluno no ensino superior, quase a média dos países da OCDE, e apenas US$ 3.583 por aluno no básico (na OCDE, US$ 10.949). Ademais, o ensino técnico, grande promotor de geração de renda, não é valorizado em nosso país. Aqui, só 8% dos alunos do ensino médio cursam a modalidade, ante 44% na média da OCDE, 29% no Chile e 24% na Colômbia.
É preciso interromper a moralização do debate sobre cotas. Dogmas servem à religião, não a políticas públicas. Há diversas medidas que podem ser tomadas para combater o racismo, e apoiar tribunais raciais, definitivamente, não é uma delas.
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