Marcelo Damato

Marcelo Damato tem 35 anos de jornalismo. Dedica-se à cobertura do poder, no futebol e fora dele

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Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Bola não saiu em gol do Japão, mas no Brasil a polêmica existe

Lance decisivo mostra que, no país, a lei dos limites do campo é interpretada do jeito errado

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Um dos momentos mais controversos da arbitragem desta Copa é o debate se a bola saiu ou não no segundo gol do Japão contra a Espanha, na quinta-feira (1º), lance que definiu o grupo E.

A imagem vista do alto mostra a bola minimamente sobre a linha. A imagem de lado do mesmo momento exibe uma clara distância entre o ponto da bola apoiado no chão e a linha de fundo. O que vale?

A regra diz que a bola precisa passar inteiramente da linha para estar fora (ou ser gol). Não diz nada sobre pingar na linha, como acontece no tênis ou no vôlei.

A imagem de cima mostra que uma parte não passou. A imagem de lado só mostra que o centro da bola passou. Logo, a bola não saiu. Não deveria haver polêmica. Mas, no Brasil, ela existe. Essa decisão fere as convicções nacionais sobre a aplicação da regra.

A questão é que os árbitros de futebol no Brasil manipulavam (e ainda manipulam) as regras, aplicando-as de forma distorcida. Como nem o público, nem, infelizmente, uma boa parte dos jornalistas especializados, conhece as regras no detalhe, os assistentes priorizam a "tradição" à regra.

Duvida? Essa é a mensagem que recebi nesta sexta (2) de uma pessoa que conheço há 60 anos e que é apaixonada por futebol desde que nasceu.

"(O impedimento) até, acho, os anos 70, era simples e claro. Um jogador atacante não podia receber uma bola na posição entre a defesa e o goleiro do time rival. Mas depois que alteraram a regra para o momento de lançamento e não do recebimento... aí complicou muito."

Só que a regra nunca mudou. O que mudou foi a forma de os árbitros apitarem e de os comentaristas analisarem no Brasil. Durante décadas, o momento do recebimento da bola foi o que contou. A situação só foi corrigida de vez nos anos 90, quando as TVs contrataram ex-árbitros para analisar os colegas.

Na questão da bola fora, os erros continuam até hoje. Sempre que o centro da bola mal passa da linha lateral, os narradores pedem bola fora, mesmo estando numa posição totalmente desfavorável. E os assistentes, como se pudessem escutar, levantam a bandeira. E o centro da bola não está na regra.

Imagem divulgada pela Fifa mostra a bola com milímetros em cima da linha de fundo - @Fifa no Twitter

Trocando em miúdos, se a bola está encostada no chão além da linha lateral ou de fundo a uma distância menor do que o seu raio (distância do centro à superfície), ela ainda está dentro do campo. E o raio da bola é de 11 cm, grosso modo.

Mas por que os árbitros e assistentes apitam errado? Para fugir de controvérsias. Inúmeras vezes geradas por comentaristas. E aproveitadas pelos dirigentes dos clubes.

Quer outro exemplo? Durante décadas, o comentarista de arbitragem da Globo Arnaldo Cezar Coelho, que dirigiu a final da Copa de 1982, defendia que o árbitro desse acréscimos mínimos ou encerrasse o jogo antes do fim do tempo de acréscimo "para não se complicar".

Para essa visão, ainda hoje muito forte na arbitragem brasileira, fazer o cumprimento das regras, muitas vezes, é "querer ser mais realista do que o rei".

A tecnologia ajudou o Brasil a entender (quase) claramente a lei do impedimento. Talvez consiga nos convencer de que também na questão da bola fora, o que vale é o que está escrito.

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