Marcelo Damato

Marcelo Damato tem 35 anos de jornalismo. Dedica-se à cobertura do poder, no futebol e fora dele

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Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Silas Malafaia para presidente da CBF

Futebol brasileiro precisa usar o poder da palavra para difundir seus valores essenciais e mobilizar os torcedores

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Que susto, hein?

Mas o assunto é sério.

Eu não sou da turma do Malafaia. Não compartilho sua visão de mundo, nem concordo em geral com suas posições. E, por fim, não sou evangélico.

Mas é inegável que o bispo, como vários pastores, é um excelente comunicador. Ao longo de décadas, esses pregadores vêm fazendo um consistente trabalho de atração de fiéis, baseado no poder da palavra. Se a palavra é mesmo de Deus ou deles mesmos, não interessa aqui.

Silas Malafaia, com microfone na mão, terno escuro e gravata clara, aponta com o dedo enquanto discursa durante encontro de Jair Bolsonaro com lideranças evangélicas, em março de 2022, no Palácio da Alvorada, em Brasília
Silas Malafaia discursa durante encontro de Jair Bolsonaro com lideranças evangélicas, em março de 2022, no Palácio da Alvorada, em Brasília - Pedro Ladeira - 8.mar.22/Folhapress

O que isso tem a ver com a CBF e o futebol brasileiro? Bastante.

O futebol tem muitos pontos em comum com uma religião. Sem desmerecer a gestão e a beleza do jogo, comum a muitos esportes, sua força depende da crença de que esse esporte representa algo superior, acima dos homens.

O que se viu em Buenos Aires, na festa do tri argentino, é uma prova inquestionável. Cinco milhões de pessoas não se aglomeram sem uma crença comum muito forte.

No Brasil, não se vê a mesma força da palavra do "deus" Futebol. Aqui, são os resultados que ditam o ânimo da torcida. Grande parte dos torcedores agem como consumidores, exigindo vitória e espetáculo em troca do dinheiro gasto. Futebol não é ópera.

Na Copa do Mundo, essa atitude se agrava. Em 2014, a intensidade das vaias contra a seleção repercutiu no mundo todo. Futebol também não é geladeira.

Volte a pensar em religião. Dá para imaginar um devoto cobrando de seu deus resultado para sua vida e em caso negativo, vaiá-lo ou demiti-lo?

É claro que a força da fé depende de resultados. Mas os verdadeiros torcedores estão sempre com o time e cobram apenas empenho. O Brasil precisa reaprender a agir assim.

A construção desse elo, essa sensação de pertencimento, não depende só da torcida. É muito fruto da ação dos pastores e bispos, que neste caso são jogadores, técnicos e cartolas.

Aqui dirigentes são tachados de desonestos e os jogadores, de displicentes. Será que é isso que realmente importa?

Os dirigentes mais populares são os que são tidos como mais honestos ou aqueles que têm mais carisma? Se o comportamento extracampo fosse a medida da popularidade, Kaká seria tão reverenciado quanto Pelé.

Por outro lado, e Maradona? Foi alguma vez um exemplo? Seus títulos e exibições foram essenciais, mas é o poder da palavra que explica por que os torcedores não o abandonaram mesmo nos momentos mais "policiais" da sua vida. Que outra explicação pode ter o fato de Maradona ser muito mais adorado na Argentina do que Pelé no Brasil?

Em contrapartida, os dirigentes e parte dos jogadores brasileiros parecem dizer: quero fazer meu trabalho em paz.

Jogadores de futebol não são engenheiros que desenvolvem smartphones. Da mesma forma, os dirigentes não são apenas o departamento financeiro. Entregar resultados é fundamental do trabalho, mas essa é a meta de curto prazo.

O que mantém um futuro ainda mais poderoso para cada clube e para o todo é manter os torcedores com fé no que virá. A comunicação e a fé são a diferença entre jogar na Copa do Mundo e na pelada da firma.

E, mesmo para um produto tão impessoal como um celular, o impacto de um pregador da capacidade de Steve Jobs fez daquele aparelho um novo deus por muitos anos.

Quem deve comandar o futebol são profissionais do futebol. Mas é importante reconhecer que os evangélicos têm a ensinar sobre como reforçar o laço entre torcedores, jogadores e dirigentes.

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