Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Mudança do clima com Biden não será nenhum refresco

Senado e Judiciário criarão barreiras para plano democrata; Brasil virará saco de pancadas

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Na quarta-feira (4), com o mundo mesmerizado pelo páreo eleitoral bizantino nos EUA, o país deixou formalmente o Acordo de Paris. De saída, Donald Trump cumpriu a promessa isolacionista e largou uma batata quente para Joe Biden descascar.

O democrata ambiciona dar uma guinada nas políticas ambientais dos EUA, investindo em energia limpa US$ 2 trilhões (cerca de R$ 11 tri, ou 1,5 vez o PIB do Brasil). Pisa fundo na direção do Green New Deal defendido pela esquerda de seu partido.

No Senado, o ressentimento republicano pode fulminar propostas de Biden. Além disso, ele verá as iniciativas questionadas na Suprema Corte com maioria conservadora e nos tribunais federais onde Trump instalou duas centenas de juízes.

Medidas para combater o aquecimento global costumam ser rotuladas como “socialistas” pela direita empedernida, pois envolvem incentivos e subsídios --por exemplo, para a energia solar. Enfrentando resistência em seu país, restará ao novo presidente perfilar-se como mocinho na cena internacional.

Um dia depois da eleição, o democrata mandou em rede social: “Hoje a administração Trump deixou oficialmente o Acordo do Clima de Paris. E em exatamente 77 dias a administração Biden vai voltar a ele”. Retornando à mesa, poderá justificar a contumaz lerdeza dos EUA nas negociações alegando que o antecessor republicano atrapalhou tudo.

Biden, assim como outros governantes de países ricos que arrastam os pés nas tratativas globais, terão alvo fácil para abater na próxima cúpula, dentro de um ano, em Glasgow: Jair Bolsonaro. Será irresistível disparar contra um presidente que nega a mudança climática, incentiva a destruição da Amazônia e ainda se declara para Trump.

O brasileiro levará na bagagem coleção de más notícias. A primeira saiu nesta sexta-feira (6): o país descumprirá meta de reduzir sua contribuição nacional para desequilibrar o clima do planeta, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa (Seeg).

Pelos cálculos dessa iniciativa, que reúne 56 organizações, o Brasil lançou 2,2 bilhões de toneladas de CO2 (GtCO2eq) na atmosfera em 2019, 10% mais que no ano anterior. Descontado o carbono que matas reabsorvem, a emissão líquida foi 1,6 GtCO2eq, acima da 1,3 GtCO2eq com que se comprometeu em Paris como objetivo para 2020 (e a emissão vai aumentar de novo neste ano, como se verá a seguir).

O grosso da poluição climática brasileira resulta do desmatamento da floresta amazônica, 44% do total de CO2. Se incluídos os 28% da pecuária e da agricultura, chega-se a 72% de contribuição do agronegócio para desarranjar o clima planetário --embora o setor produza só 21% do PIB.

As emissões aumentaram, em resumo, porque a devastação disparou no primeiro ano de Bolsonaro, à taxa de 34,4% sobre o ano anterior. Atingiu 10.129 km2, maior área destruída desde 2008.

Dessa estatística anual virá também a segunda má nova do Brasil para o mundo: em 2020, o desmatamento terá saltado de novo, para algo como 13.000 km2, cifra que o Planalto deverá anunciar nos próximos dias ou semanas, se cumprir o calendário usual.

O Brasil passou da 6ª para a 5ª posição como maior poluidor do clima mundial, deixando para trás a Indonésia. Os quatro primeiros são China, EUA, Índia e Rússia.

A diferença: no quarteto campeão, 2/3 das emissões de carbono procedem dos setores de energia e indústria, que geram empregos e desenvolvimento. Por aqui, o desmatamento só beneficia grileiros, pecuaristas, madeireiros e garimpeiros ilegais.​

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