Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Descrição de chapéu universidade

Quem se importa com a matemática dos truques de cartas?

Entre os trabalhos publicados nos anos 1990, Persi Diaconis provou diversas regras matemáticas rigorosas sobre embaralhamento das cartas

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O pesquisador Persi Diaconis, da Universidade de Stanford, interrompeu a sua apresentação no evento em comemoração ao 70º aniversário do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), na semana retrasada, com uma pergunta que raramente se escuta numa conferência de pesquisa: "Quem se importa com isto?"

Diaconis é um personagem singular no mundo da matemática, com uma trajetória pessoal e profissional inusitada. Eu o encontrei pela primeira vez em 1998, quando ambos proferimos palestras plenárias no Congresso Internacional de Matemáticos de Berlim.

Voltamos a nos encontrar pessoalmente 15 anos depois, quando ele fez uma palestra de popularização sobre a matemática das coincidências no 1º Congresso de Matemática das Américas, que ajudei a organizar na cidade mexicana de Guanajuato.

Conferência Impa 70 Anos
Conferência Impa 70 Anos - Impa/Reprodução

Nascido em 1945, aos 14 anos de idade Diaconis saiu de casa para viajar com o mágico e prestidigitador Dai Vernon, ao lado de quem se apresentou em shows circenses. Na ocasião, abandonou a escola, claro. Mas regressou dez anos depois, determinado a aprender a matemática por trás dos truques de cartas que descobrira em suas andanças.

Graduou-se pela Universidade da Cidade de Nova York, em 1971, e doutorou-se em estatística matemática pela Universidade de Harvard, três anos depois. Contam que nesse período se sustentava e pagava os estudos jogando poker nos navios que ligavam Nova York ao sul dos Estados Unidos.

Hoje é uma liderança quase lendária no mundo da pesquisa em estatística, além de continuar sendo um exímio prestidigitador.

Em alguns de seus trabalhos mais famosos, publicados nos anos 1990, Diaconis provou diversas regras matemáticas rigorosas sobre embaralhamento, e o que é preciso fazer para que a ordem das cartas possa ser considerada genuinamente aleatória.

"Tenho certeza de que a regra de que basta embaralhar sete vezes vai estar escrita na minha sepultura!", comentou em tom de brincadeira numa conversa. Esse foi precisamente o tema da palestra dele no Impa, aliás. E ele mesmo respondeu à própria pergunta sobre quem se importa com isso.

"Bem, muita gente joga cartas, e as pessoas que misturam o baralho se importam com quantas vezes devem embaralhar as cartas. Basicamente, mudaram as regras em Las Vegas por causa de um teorema que nós provamos!" Essa história merece ser contada, mas vai ter que ficar para a semana que vem.

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