Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Marcelo Viana

Quanto vale a medalha Fields?

Financiamento continua incipiente, e valor monetário do prêmio é pequeno; prestígio, contudo, garante melhores oportunidades profissionais

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A criação de um prêmio internacional em matemática era sonho de longa data do canadense John Charles Fields (1863-1932). A oportunidade surgiu ao final do Congresso Internacional de Matemáticos de 1924, que Fields organizou em Toronto, quando foi decidido usar o saldo remanescente do evento para custear duas medalhas de ouro a serem atribuídas a cada quatro anos, por ocasião dos Congressos subsequentes.

O próprio Fields deixou parte de seus bens em testamento para financiar a nova premiação e, em 1966, uma doação anônima permitiu aumentar o número de medalhas para quatro. A primeira premiação, no Congresso de 1936, em Helsinque, distinguiu o analista finlandês Lars Ahlfors e o geômetra norte-americano Jesse Douglas.

Maryam Mirzakhani (1977-2017), primeira mulher a receber a medalha Fields - The Seoul ICM 2014/AFP

Fields falecera quatro anos antes, mas em respeito à sua vontade de que a medalha servisse "como estímulo a novas realizações", foi estabelecido que apenas matemáticos de até 40 anos de idade seriam elegíveis para a premiação. Com pequenos ajustes, essa regra continua valendo até hoje. Mas outro desejo expresso de Fields, de que a premiação não tivesse o nome de ninguém, não foi respeitado: desde sempre foi conhecida como medalha Fields, em sua homenagem.

Ao longo da história, a medalha já foi atribuída a 64 pessoas, sendo 62 homens e duas mulheres. O viés de gênero começou a ser quebrado em 2014, quando a iraniana Maryam Mirzakhani foi a primeira vencedora, e essa tendência foi reiterada em 2022, com a concessão da medalha Fields à ucraniana Maryna Vyazoska.

Embora oriundos de diferentes países, quase todos os vencedores têm em comum terem realizado seus estudos no mundo desenvolvido: a exceção é o brasileiro Artur Avila, ganhador em 2014, cuja formação ocorreu integralmente no Brasil, culminando com o doutorado no Impa, instituição onde eu atuo desde 1986.

Apesar das contribuições recebidas, o financiamento da medalha Fields continua incipiente, o que acarreta que o valor monetário do prêmio seja comparativamente pequeno: 15 mil dólares canadenses, um pouco abaixo de R$ 60 mil.

Mas o algebrista russo Efim Zelmanov, medalhista em 1994, me apontou uma vez que o prestígio do prêmio faculta as melhores oportunidades profissionais, com aumento de salário e, como isso acontece cedo na vida da pessoa, o benefício se estende ao longo de décadas. Feitas as contas, trata-se do maior prêmio científico que existe, afirma.

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