Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos

Depósitos retidos e calote de hipotecas: o novo drama do mercado

Temor é que China entre em uma crise financeira interna e cause uma onda global

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Engana-se (e muito) quem acha que as notícias da China que mais importam para o mercado financeiro são as relativas aos lockdowns. Por mais que o efeito das quarentenas chinesas nas Bolsas seja sentido imediatamente, elas já entraram praticamente na rotina dos mercados.

As projeções dos grandes players do mercado dependem de outros pontos que agora começam a preocupar. E muito.

Além de portos fechados e quedas nas vendas do varejo, o medo é que a China entre em uma crise financeira interna e, cumprindo seu papel de segunda maior economia do planeta, cause uma onda global.

Na última semana, a agência de classificação de risco Moody’s anunciou que o número de empresas asiáticas cujo risco de crédito foi considerado de elevado a altíssimo chegou a 30,5% em maio.

A marca é importante por dois motivos: é mais que o dobro do percentual do registrado ano passado; e está acima dos 27,3% atingidos em maio de 2009, no auge da crise financeira global.

bandeira vermelha com estrela amarela tremula frente a um prédio em construção
A bandeira nacional chinesa, em frente à construção de um novo complexo residencial em Pequim. - Kim Kyung-Hoon/Reuters

E você se lembra do que causou a crise de 2008? Em resumo: uma onda de calotes em hipotecas nos Estados Unidos. Créditos imobiliários eram oferecidos aos baldes e, na outra ponta da corda, os bancos vendiam essas carteiras de crédito para terceiros, que as ofereciam como investimento. Quando os devedores deixaram de pagar pelos empréstimos, o efeito bola de neve gelou as contas de todo o planeta.

Pois bem, sabe o que está preocupando as autoridades chinesas neste exato momento? Calotes em créditos imobiliários!

Claro, de 2008 para cá foram muitas as mudanças. Nem WhatsApp existia. Mas vejamos em detalhes o que está acontecendo agora na China: Em todo o país, compradores de casas estão se recusando a pagar por empréstimos, enquanto construtoras e incorporadoras atrasam obras.

A crise imobiliária e o risco de crédito tomaram tamanha proporção que as autoridades chinesas convocaram reuniões de emergência com bancos, para discutir os impactos esperados para o boicote aos créditos imobiliários.

Também na última semana, chamou a atenção do mundo (com direito a reportagem no New York Times) o caso de correntistas de quatro bancos que tiveram suas finanças congeladas após as instituições serem investigadas por fraude.

Não bastasse o alto risco financeiro exposto pelo caso em si, ele ganhou contornos ainda mais terríveis quando correntistas de diversos lugares foram protestar contra o congelamento em frente à filial do Banco Popular da China em Zhengzhou, capital da província de Honan, e foram escorraçados pela polícia a socos e pontapés.

Dados do PIB chinês no segundo trimestre deste ano, que acabam de ser divulgados, mostram que a economia cresceu no ritmo mais lento desde que o país foi atingido pelo primeiro surto de Covid-19. O preço dos imóveis caiu pelo 10º mês consecutivo.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) tem pedido que o país aumente os gastos e o apoio monetário às famílias, mas ainda não há definição sobre os próximos passos.

O desenrolar dos fatos no gigante asiático deve determinar o apetite do mercado nos próximos meses para insumos como minério de ferro, soja, petróleo e carne brasileiros.

A venda desses quatro produtos do Brasil para a China somou US$ 54,8 bilhões (hoje, cerca de R$ 297,2 bilhões) em 2020.

Investidores da Vale, Petrobras, JBS e de outras gigantes da nossa Bolsa ligadas a commodities devem viver momentos de tensão até que seja possível prever os próximos capítulos do drama chinês que se desenrola.

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