Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Extravagância do submarino é parte de mercado em que parece não haver crise

Apertos no setor de luxo são mais relacionados à vontade de gastar do que à possibilidade de fazê-lo

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São Paulo

O trágico fim do passeio de submersível para ver os destroços do Titanic, com a morte de cinco pessoas, atraiu holofotes também para o preço cobrado: US$ 250 mil por pessoa. Praticamente R$ 1,2 milhão pelo mergulho, de cerca de oito horas. Extravagante, mas apenas uma parte de um mercado para o qual parece não haver crise.

O mais recente estudo do Credit Suisse apontou um salto no número de milionários (com patrimônio acima de US$ 1 milhão) pelo mundo: de 57,5 milhões de pessoas, no fim de 2020, para 62,5 milhões, no fim de 2021. No Brasil, deverão ser 572 mil até 2026, prevê o banco.

Titan, submarino que desapareceu durante uma expedição para o Titanic - Divulgação

O salto se explica em parte pela própria crise da Covid-19. Ao mesmo tempo que reduziu drasticamente a produção em todo o mundo e colocou freios nas economias, a pandemia aumentou a desigualdade e, logo, a concentração de renda.

No início do mês, fui a um evento em que fabricantes de jatinhos, helicópteros e carros de luxo exibem para os consumidores seus produtos e lançamentos, no São Paulo Catarina Aeroporto Executivo Internacional, em São Roque (SP). Chama a atenção o fluxo de pessoas que parecem genuinamente interessadas em comprar itens como McLarens novas.

Segundo dados preliminares da organização, foram mais de 5.200 visitantes, nos três dias do Catarina Aviation Show. Não foi divulgado o valor dos negócios realmente fechados durante o evento, mas um dos oito expositores de aeronaves vendeu, lá mesmo, dois helicópteros, cujo preço fica perto dos R$ 19 milhões cada um.

Sócio da Andicrose, um ateliê de bicicletas de luxo em madeira que aproveitou o evento para lançar um novo modelo de suas bikes, Victor Mazzuco resume bem o que acontece: apertos no setor de luxo são mais relacionados à vontade de gastar do que à possibilidade de fazê-lo. São paradas estratégicas, não uma efetiva queda no poder aquisitivo.

Houve uma redução do consumo no fim do ano, seguindo tendências globais de recessão e as incertezas do período eleitoral. Mas o mercado reaqueceu, com a simples manutenção das condições econômicas para 2023.

Agora, no fim do semestre, o interesse nas bicicletas artesanais, cujo preço vai de R$ 28 mil a R$ 60 mil, disparou, conta Mazzuco.

O caso explica bem o movimento nas ações das empresas ligadas ao mercado de luxo na Bolsa brasileira.

Vivara, a joalheria, e Grupo Soma, dona das marcas de roupa como Animale e Farm, viram suas ações (VIVA3 e SOMA3) decolarem 35% e 45%, respectivamente, de 20 de abril a 20 de junho. O Ibovespa subiu 14% no período.

As duas são as únicas empresas brasileiras no ranking feito pela consultoria Deloitte com as cem maiores companhias de artigos de luxo do mundo, que somaram receitas de US$ 305 bilhões em 2021, ultrapassando a marca de 2019, auge antes da crise.

No Brasil, a associação do setor, a Abrael (Associação Brasileira de Empresas de Luxo), aponta que o crescimento durante a crise foi uma realidade e projeta um avanço de 3% em todo o faturamento da área até 2025.

Para aproveitar o momento, entretanto, é preciso estar preparado para associar suas marcas à novas tendências de consumo, afirma o relatório da Deloitte.

De acordo com a consultoria, as empresas de luxo começaram a entender a relevância da revenda como solução estratégica para limitar o impacto ambiental negativo de seus produtos.

Novas ferramentas para, por exemplo, rastrear a origem de bens de luxo começam a ser exigidas. Cabe ao investidor enxergar isso antes dos próprios consumidores do mercado de luxo.

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