A polarização exacerbada da política atrapalha o enfrentamento dos problemas econômicos. A discordância técnica e os alertas sobre riscos passaram a ser tratados como injúria, lembrando as brigas entre torcedores de futebol.
Curiosamente, parte da direita se assemelha à esquerda mais radical. O que interessa é desqualificar a divergência, não discutir os argumentos.
Desde 2016, houve importantes avanços. A regra do teto, a redução dos subsídios e a melhor governança das estatais foram apenas algumas das medidas do governo Temer que interromperam a recessão e resultaram em enorme queda da taxa de juros.
Existem boas medidas em gestação, como o acordo com a União Europeia e a reforma da Previdência, mas são avanços de longa maturação.
A lenta recuperação da economia indica que os problemas são mais severos do que esperavam os torcedores entusiasmados. O crescimento potencial deve estar perto de 1% ao ano. A elevada capacidade ociosa permite uma retomada um pouco mais acelerada em 2020, porém será de vida curta sem novas reformas.
O sistema tributário tornou-se disfuncional e é um dos obstáculos ao crescimento. A Receita Federal poderia simplificar os tributos e propor regras mais precisas que reduzam o excessivo contencioso que hoje prejudica o setor privado.
Além disso, deve-se rever a governança desse sistema. A Receita elabora a legislação tributária, interpreta-a, lavra autos de infração e ainda tem voto duplo no tribunal que julga os pleitos dos contribuintes. Para agravar, auditores fiscais defendem um bônus de produtividade que depende da arrecadação.
No país de ponta-cabeça, parte da burocracia parece acreditar que o setor privado existe para servir ao Estado e propõe interpretações criativas para aumentar a tributação.
Paradoxalmente, o setor privado é cúmplice da complexidade tributária disfuncional. Grupos organizados pedem tratamento diferenciado, e o resultado é uma legislação caótica, com inúmeras regras, casos particulares, regimes especiais e uma imensa ambiguidade sobre como tributar em muitos casos específicos.
Os problemas são tecnicamente complexos e, para piorar, segmentos do setor privado resistem em abrir mão dos seus privilégios e serem tratados como a maioria.
Na gestão pública, um bom exemplo é dado pelo ministro Tarcísio de Freitas, que conduz uma agenda técnica e cuidadosa para viabilizar os investimentos em infraestrutura.
No setor privado, muitos agem como torcedores de arquibancada enquanto, nos vestiários, defendem aguerridamente os seus privilégios. Todos teremos de contribuir com sacrifícios se quisermos que a economia se recupere.
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