Maria Homem

Psicanalista e ensaísta, com pós-graduação pela Universidade de Paris 8 e FFLCH/USP. Autora de "Lupa da Alma" e "Coisa de Menina?".

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Maria Homem

A ciência da nossa presença

A reconstrução da ciência no Brasil passa necessariamente pela questão de gênero

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Esta coluna foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Quem escreve é Márcia ​Abrahão Moura, reitora da Universidade de Brasília.

A reconstrução da ciência no Brasil passa necessariamente pela questão de gênero. Mais do que isso: deve enfrentar a desigualdade de gênero. Se o assunto é divisão sexual do trabalho, as cientistas atravessam problemas similares às profissionais de outras categorias. Precisam provar que são mais do que já são.

Sou a única reitora na história dos 60 anos da Universidade de Brasília (UnB). Das 74 universidades federais, apenas 14 são comandadas por mulheres. É muito pouco, quando sabemos de nossa presença significativa na academia e na sociedade. Somos também minoria entre pesquisadores que chegam ao topo da carreira científica.

Várias casas ilustradas de maneira irregular, uma delas é uma urna eletrônica. Essas casas são ligadas por estradas. Sobre as casas várias ilustrações em traço vermelho. Uma mulher lendo, pulmões, uma mulher de beca segurando um papel, uma galinha com os orgãos internos representados sobre o corpo, uma representação de corte de uma artéria, uma mulher com os cabelos amarados, um mosquito, uma pessoa de óculos escuros com um papel na mão, uma água-viva e um microscópio
Joana Lavôr

No cotidiano da UnB e da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o debate se dá todos os dias. Estamos começando a organizar as experiências das políticas para mulheres nas universidades dirigidas por reitoras, com o objetivo de expandir para as demais.

Flávia Biroli, pesquisadora e professora de ciência política que muito nos inspira na UnB e nos deu a honra de abrir o último semestre letivo, lembra sempre que a paridade de gênero, além de garantia de direitos humanos, qualifica as democracias —e delas é princípio fundamental. Nesse sentido, nos últimos anos o Brasil vem se furtando a enxergar a realidade de meninas e mulheres, trazendo sérios riscos para a democracia.

Ganhamos menos, participamos menos, temos menos direitos. Em termos de educação, economia, saúde, trabalho, renda e política, a diferença entre homens e mulheres no país, contabilizada pelo Fórum Econômico Mundial em 2021, é de aproximadamente 30%. E há em curso um projeto sistemático de estigmatização ou apagamento da discussão sobre essa lacuna.

Daí a importância de as próximas eleições trazerem esse tema à tona. Ou o país percebe nossa existência ou continuará a promover vulnerabilidade em larga escala e esconder uma violência sofrida no corpo, na experiência do dia a dia.

Na UnB, instalamos uma Câmara de Direitos Humanos para lidar com a questão de forma permanente e democrática, e criamos a Secretaria de Direitos Humanos, que agora abriga a Coordenação de Mulheres. Em nossa comunidade de mais de 58 mil pessoas, somos maioria entre estudantes de mestrado (51%) e doutorado (53%), e também entre técnicas (51%). Apenas entre docentes as mulheres são minoria (45%).

Embora persistam desigualdades no ambiente acadêmico, há bastante empenho para uma inserção efetiva. A participação das estudantes da UnB em pesquisa nos enche de esperança: 65% no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e 67% no Programa de Iniciação Científica em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação. Além disso, dominam as empresas juniores: 70% têm presidentes mulheres e 65% em cargos de liderança.

Se nós, mulheres, vamos decidir as eleições, como apontam sondagens diversas, passou da hora de ocupar espaços de decisão e influenciar diretamente para termos um país menos agressivo, menos opressor. Queremos um lugar aberto à liberdade sobre o corpo, igualitário nas condições de trabalho, justo nos direitos sobre a maternidade, diverso nas manifestações identitárias e solidário com as pesquisadoras, mães ou não.

Por isso e para isso, estamos atentas às estratégias de candidatas e candidatos. E não vamos abrir mão de estar à frente desse processo. Não mesmo.

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