Se for confirmado em março, na apresentação dos dados oficiais do Censo, o menor crescimento do número de habitantes do Brasil na história, 0,7% em relação a 2010, terá forte impacto no mercado de consumo. Ainda que esses números sejam questionados e criticados e que até possam mudar, é evidente que a natalidade continua caindo e que a pirâmide etária terá, cada vez mais, mais idosos.
E, como sabemos, milhões de pessoas com 60 anos ou mais sobrevivem no país com aposentadorias e pensões defasadas, além de gastar muito com saúde, por motivos óbvios.
O cenário é desafiador não somente por aqui, mas em todo o mundo. Nos últimos dias, greve geral convocada pelas centrais sindicais parou a França contra a proposta de reforma da previdência, que prevê aumento da idade mínima para aposentadoria de 62 para 64 anos.
Exigir mais idade para fazer jus à aposentadoria é um fenômeno mundial. Na Alemanha, por exemplo, a idade mínima dos aposentados aumenta ano a ano –deverá chegar a 67 anos em 2029. Aposentadoria com mais idade também é realidade na Dinamarca, nos Estados Unidos, na Coreia do Sul, no Reino Unido, na Grécia e na Holanda, entre outros países.
Os responsáveis pela criação do Estatuto da Pessoa Idosa, uma das boas leis brasileiras, que está completando 20 anos, enxergaram à frente e incluíram no texto prioridade máxima aos cidadãos com 80 anos ou mais em relação aos demais idosos. Os benefícios começam a partir dos 60 anos, mas há necessidades diferenciadas nas faixas etárias dos ainda mais velhos.
Industriais, comerciantes e demais prestadores de serviços também terão de se adaptar a todas essas mudanças. E isso não significa apenas fabricar e vender mais produtos para a chamada terceira idade. É necessário oferecer preços acessíveis e tornar os produtos mais saudáveis, seguros e confiáveis.
Também há que dotar as lojas de mais conforto e segurança, com pisos antiderrapantes, áreas de descanso, serviço médico de plantão e vendedores preparados para lidar com pessoas que, muitas vezes, têm restrições de leitura e audição.
Os profissionais da linha de frente também terão de respeitar questões comportamentais dos clientes. Há muitos consumidores e consumidoras idosos solitários, com poucas oportunidades de convívio social. Gostam de conversar, perguntam mais, enfim, demandam mais empatia, atenção e carinho.
As operadoras de planos de saúde já vêm enfrentando um desafio imenso: investir em cuidados preventivos que evitem doenças e consequente desequilíbrio financeiro, pois os beneficiários tendem a usar mais a assistência médico-hospitalar à medida que envelhecem.
Enquanto ainda não resolvemos problemas elementares do século 20, como concentração de renda, saneamento básico, deficiências de moradia, educação e saúde, o mundo mudou e não nos preparamos adequadamente.
Essa adaptação é muito difícil, cara e exigirá união e criatividade de todos nós para que viver mais também seja viver melhor.
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