Quero não acreditar em horóscopo, assim como não acredito em kit gay, ameaça do comunismo, terra plana. Mas veja como a vida sempre dá um jeito de nos testar de formas muito marotas.
Estou com o dia cheio de trabalho, preciso entregar vários textos, os prazos pulando no meu cangote. Tive que interromper o que fazia para ir ao banco, sacar dinheiro e assim poder honrar meu compromisso com Ivonilde, minha fiel escudeira, que mantém esta casa cheirando à flor de jasmim. Mentira, detesto cheiro de jasmim, mas acho jasmim um nome de flor muito bonito.
Na volta, a uns 15 metros de distância, um moço começa a sorrir e eu, já sem graça, penso num jeito de mostrar a aliança e deixar claro que sou casada. Percebo que se trata de uma daquelas boas, mas inconvenientes, almas que doam seu tempo angariando fundos para salvar crianças da fome, golfinhos do cativeiro, araucárias da extinção. Senti alívio e mau humor ao mesmo tempo.
Quis acelerar o passo, mas ele foi mais rápido do que eu. Posso te fazer uma pergunta? Naquele momento baixa a sagitariana (arrogante e sincera) em mim e eu respondo, sem parar de andar: claro, desde que eu possa fazer uma, primeiro.
Ele abre um sorriso, sente nas mãos a cota do dia para os pobres mamíferos. Você acha mesmo que eu estou com cara de quem quer conversar qualquer coisa com alguém que não conheço? Lá fui eu, sem olhar para trás e sem vê-lo murchar o sorriso e me chamar de vaca.
Antes que eu desse cinco passos, a pisciana (sensível e amorosa) que domina o meu ascendente e o meu âmago começou a convulsionar. Quis morrer de arrependimento, voltar lá, abraçar o moço e doar o dinheiro do frila do dia para salvar as abelhas.
Chego em casa, já virando a página do papelão que acabei de protagonizar. Vida que segue, bem sagitarianinha. Leio no Twitter que Netuno está retrógrado, que a energia está pesada, que as pessoas ficam meio loucas. Quem acredita nessas coisas?
Corro para tomar um banho e me arrumar para gravar um vídeo para o YouTube. Se veste daqui, maquia dali, seca o cabelo acolá e eu enfio, sei lá como, mas muito desastrada, coisa típica de, adivinhe, sagitariano, o cabo do pente dentro do olho. E cá estou eu, na sala de espera do oftalmologista, me achando muito coitada, típica pisciana, rainha da vitimização.
Como não acreditar em signo, ascendente, lua em aquário? Como? Mas antes botar fé nisso a acreditar em mamadeira de piroca.
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