Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Novak Djokovic só pensa em si mesmo

Em entrevista, conseguiu frustrar quem é a favor e contra a vacina e virou seu próprio inimigo

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Você é antivacina e acha que Novak Djokovic o representa? Enganou-se. É a favor e pensa que, depois do vexame na Austrália, o sérvio vai se vacinar? Nada disso. Na primeira entrevista desde que foi deportado, à rede britânica BBC, o número um do mundo mostrou que só se preocupa com ele próprio.

Deixemos de lado teorias de que foi conveniente testar positivo para Covid-19 às vésperas do Australian Open para tentar disputar o torneio com uma exceção médica. Ou que ele boicota vacinas por ter participação em uma empresa que busca tratamento para coronavírus. Vamos aos fatos, ao que ele falou. Uma entrevista de quase 30 minutos de um atleta inteligente e articulado, mas com inconsistências.

Djokovic confirmou que não se imunizou, disse que não é contra vacinas e que as tomou quando criança, mas que analisa tudo que ingere, até a água que bebe. De fato, há anos fala como a performance melhorou desde que cortou glúten, leite e derivados e adotou uma alimentação à base de plantas.

Mas, ao mesmo tempo que disse que "a vacinação é o maior esforço já feito" para combater o vírus, defendeu a liberdade de escolher o que coloca no próprio corpo, como quem equipara vacina ao suco verde do café da manhã. Na pandemia, discurso libertário não serve de nada. Liberdade é ter um cartão de vacinação.

O tenista disse agir baseado no que sabe: "Não tenho informações suficientes sobre esta vacina." Mais de dez bilhões de doses foram aplicadas em mais da metade da população do planeta. Ela é segura e foi aprovada pelas agências reguladoras mais respeitadas do mundo. Salva milhões de vidas, evita casos graves. O que mais ele quer saber?

Deportado da Austrália por ser considerado ameaça à saúde pública, disse que nunca fez parte do movimento antivacina e não apoia protestos contra a imunização. Portanto, se você é antivax e compra briga para defendê-lo, saiba que ele não vai fazer o mesmo por você.

No entanto, falou que não conseguiu se expressar, não perguntaram a opinião dele. Uma frase para os 20 milhões de seguidores nas redes sociais não serviria? Djokovic escolheu se calar. Ainda culpou a mídia por olhares tortos que recebeu no complexo do Aberto da Austrália. Por favor, não atire no mensageiro.

O sérvio entende as consequências de seus atos e não se importa em ficar fora de Roland Garros ou Wimbledon. "É o preço que estou disposto a pagar." "Por que?", perguntou o repórter, incrédulo como todos nós.

Djokovic disse estar disposto a abrir mão de torneios caso o obriguem a tomar vacina
Djokovic disse estar disposto a abrir mão de torneios caso o obriguem a tomar vacina - Guglielmo Mangiapane - 16.mai.2021/Reuters

E quando o que é considerado bom individualmente é prejudicial ao bem coletivo? O tenista desconversou da pergunta: "Espero que respeitem o que escolhi". Conclui-se que ele só pensa em si mesmo.

Mas, se é individualista, por que não toma a vacina, se torna o maior vencedor de Grand Slams e não deixa o posto de número um do mundo escapar? Porque, pelo tom das respostas, prefere uma aposta arriscada. Aos 34 anos, espera jogar por muito tempo porque cuida do corpo e que as regras mudem para que não imunizados possam viajar. Está isolado. É o único do top 100 que não se vacinou, segundo a ATP.

Como testou positivo duas vezes sem gravidade, confia no que sentiu e não no fato de que o vírus é loteria. A mancha na reputação parece não o afetar, ao usar ao extremo a mesma confiança necessária para chegar ao topo da carreira em nome de uma convicção que diz não esperar que as pessoas entendam.

É o preço que está disposto a pagar, mesmo se alto demais. Djokovic virou seu pior rival.

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