Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Descrição de chapéu Rússia

Ucrânia ameaça não ir a Paris-2024 e cresce pressão para banir russos e belarussos

Mas funciona boicotar os Jogos como forma de pressionar governos?

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Conquistar o direito de sediar Jogos Olímpicos e Paralímpicos é como ganhar na loteria, mas sem saber exatamente quanto do prêmio você vai levar. É um privilégio para poucos, só que, como a decisão sai sete anos antes, é impossível prever como estará o mundo no dia da cerimônia de abertura. Organizadores de Tóquio nunca imaginariam uma pandemia devastadora. Paris, próxima anfitriã em 2024, não contava com uma guerra envolvendo um vizinho europeu e uma potência esportiva.

Escrevo esta coluna a caminho da capital francesa para alguns dias de trabalho e descanso. A um ano e quatro meses dos Jogos, não há grandes problemas na preparação olímpica. Paris segue deslumbrante, quase todas as arenas já existem ou serão temporárias, o transporte público é excelente. Mas o dia 24 de fevereiro marca um ano da invasão russa à Ucrânia. Essa é a polêmica esportiva até o momento.

É comum Olimpíadas serem influenciadas por questões geopolíticas. Em 1936, americanos ameaçaram não ir aos Jogos da Alemanha nazista de Hitler; 1ª e 2ª Guerras Mundiais forçaram o cancelamento das edições de 1916, 1940 e 1944; alemães e japoneses foram banidos em 1948, assim como a África do Sul durante o apartheid e a Rússia pelo escândalo de doping dos últimos anos.

Agora, a Ucrânia ameaça boicotar Paris caso atletas de Rússia e Belarus (aliados dos russos na guerra) possam competir. Mais de 30 governos, incluindo a anfitriã França, defendem o banimento de russos e belarussos.

O Comitê Olímpico Internacional não confirma, mas dá a entender que há um caminho para que atletas dos dois países disputem como neutros – sem bandeira ou hino no pódio. Ucranianos não aceitam.

Boicote é quando um país decide não ir aos Jogos, normalmente como forma de pressionar governos, e tenta convencer aliados a fazerem o mesmo. Já aconteceu algumas vezes ao longo da história olímpica. Em 1980, os Estados Unidos lideraram um boicote de mais de 60 países aos Jogos de Moscou por causa da invasão soviética ao Afeganistão. Em retaliação, soviéticos e outras 13 nações não enviaram competidores a Los Angeles quatro anos depois.

Só que existe um certo consenso de que boicotes esportivos não atingem seu propósito político e que, no fim, os maiores prejudicados são os atletas. O conflito no Afeganistão durou dez anos e a consequência da ausência americana em Moscou foi o recorde de medalhas dos "inimigos" soviéticos. Além disso, não teriam impacto em países autoritários que veem este tipo de pressão como intromissão. Na Copa do Mundo do Qatar, marcada por polêmicas, jogadores tentaram um meio termo: foram e expressaram insatisfação em entrevistas ou em outras formas de protesto.

Há um tipo de boicote mais light, o diplomático, como o dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim em 2022. Países como os Estados Unidos não enviaram representantes oficiais alegando preocupação com a situação dos direitos humanos na China, mas deixaram atletas competirem. Como o evento teve restrições severas e bolhas sanitárias por causa da pandemia, foi algo ainda mais simbólico.

Pessoalmente, acho muito difícil um boicote ucraniano acontecer. Aliados como a Polônia já desconversam quando perguntados sobre o assunto. Em paralelo, cresce a pressão internacional pelo banimento de russos e belarussos. Como 2023 é ano de classificatórias olímpicas, uma decisão precisa sair em breve.

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