Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Descrição de chapéu tênis

Relaxar regras do branco para mulheres em Wimbledon é bem-vindo

Organizadores esperam que ajuste 'ajude jogadoras a focar somente a performance'

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"Em Wimbledon, sempre aparece algo que te surpreende", disse-me um amigo inglês que vai todos os anos como espectador. Verdade. O torneio de tênis mais tradicional do mundo é sempre igual e sempre diferente.

As flores do complexo desabrocham no dia certo; a grama das quadras é milimetricamente cortada; o público, elegante e impecável; o morango com creme da sobremesa típica é maduro, no ponto. Ao mesmo tempo, a cada edição há novo confronto ou polêmica. Como esporte e política se misturam, a segunda tem dominado as manchetes às vésperas do evento nos últimos anos. Nesta edição, que começa na segunda-feira (3), uma modificação nas regras vai transformar a vida das competidoras.

Primeiro, a parte política/esportiva: russos e belarussos estão de volta depois de terem sido banidos no ano passado por causa da invasão à Ucrânia. Mas estão proibidos de expressar ou usar símbolos que indiquem apoio à guerra ou regimes dos dois países. Vale também para espectadores e vai evitar saias justas como a do Aberto da Australia deste ano, quando o pai de Novak Djokovic tirou fotos com apoiadores de Vladimir Putin.

Novak Djokovic busca seu 24º título de Grand Slam - Ben Stansall - 29.jun.23/AFP

Djokovic, aliás, é favorito. Atual campeão, vai tentar aumentar a vantagem em número de títulos de Grand Slams no masculino –tem 23, um a mais do que Rafael Nadal– e igualar o recorde de Roger Federer de oito conquistas na grama inglesa em disputas de simples. Na cola do sérvio, nomes como o número um do mundo, Carlos Alcaraz.

É no feminino a novidade mais significativa, já que mexe com uma grande tradição do torneio: a obrigatoriedade de competir com uniforme todo branco. A regra de etiqueta vem desde o século 19, quando suar era considerado algo inapropriado, e uma roupa clara disfarçaria melhor o "vexame" do que as coloridas. O código de vestimenta em Wimbledon é rígido: ela deve ser branca –creme, não–; se tiver cor, no máximo 1 cm de espessura na gola, na manga, na barra da saia, no boné ou nas meias.

Mas, a partir desta edição, mulheres podem usar shorts de cor escura por baixo do uniforme, uma luta de atletas de várias gerações. Da lenda Billie Jean King, cujo auge foi entre as décadas de 1960 e 1970, a jovens talentos como Coco Gauff, de 19 anos, tenistas vêm alertando como é angustiante ter que usar branco durante o período menstrual.

Recentemente, King deu uma entrevista à rede americana CNN dizendo que, para a geração dela, ter que usar branco causava ansiedade e o pânico do "vai manchar?". Gauff afirmou que estar menstruada em Wimbledon no ano passado foi estressante e que a medida é um alívio para ela e outras tenistas. A campeã olímpica Monica Puig já escreveu sobre o "estresse mental de jogar de branco em Wimbledon, rezando para não estar menstruada durante as duas semanas de competição".

Monica Puig foi uma das que reclamaram das regras antigas - Andrew Couldridge - 3.jul.19/Reuters

Neste ano, o uniforme da seleção inglesa feminina de futebol também mudou. Os calções brancos passarem a ser azuis –pedido das jogadoras que se sentiam desconfortáveis em entrar em campo quando estavam menstruadas. Imagine ser uma atleta de alto nível, ficar durante horas em uma arena lotada, diante de câmeras do mundo inteiro, e perder o foco da performance esportiva por medo de a menstruação vazar? Parece arcaico, mas ainda acontece muito. Impossível não se solidarizar.

Demorou, mas finalmente o torneio que reúne a realeza britânica e a do esporte mostra que dá para ter igualdade de gênero mantendo a tradição. Ainda mais por um motivo tão nobre.

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