Pesquisando nesta semana sobre a Maratona de Londres, que vai ser no domingo (2), deparei-me com um artigo da BBC com o título: "Sangue, suor e corrida: quão difícil é fazer uma maratona durante seu período menstrual?". Gelei. Primeiro, por culpa. Eu corro, fiz muitas provas, inclusive maratona. Como nunca tinha pensado sobre isso?
Não tenho cólicas, mas seria complicado correr por horas nos primeiros dias do ciclo, quando parece que tem uma cachoeira saindo da gente. Onde trocar absorvente, preocupar-me se vai vazar, usar roupa escura… Além disso, somos metade da população do planeta, presentes em grandes provas amadoras –48% eram mulheres em todas as modalidades na última Maratona do Rio, quase 30% na São Silvestre e 40% na Golden Run no Rio e em São Paulo. Por que falamos pouco sobre algo absolutamente normal?
A britânica Paula Radcliffe revelou que quebrou o recorde mundial da maratona em 2002 com cólicas. A medalhista olímpica Dina Asher-Smith tem sido voz importante para quebrar este tabu, ao contar como dores menstruais atrapalham sua performance no atletismo e cobrar investimento em pesquisas. "Se este problema afetasse os homens, haveria um milhão de maneiras de combatê-lo", desabafou.
Para saber como "aqueles dias" são incômodos, nem é preciso olhar para o alto rendimento. Basta conversar com uma mulher perto de você. Perguntei nas redes sociais quem já sofreu ao praticar esportes no período menstrual e compartilho relatos autorizados por elas.
Esta falou sobre jogar futebol: "Em dia de jogo, não me sentia 100% fisicamente, e afetava meu lado psicológico. Eu me sentia mais pesada, menos disposta, cansava mais rápido e ficava meio avoada, pois me preocupava também com meu corpo".
Esta contou a experiência em uma corrida no interior de São Paulo: "Não tinha nenhuma estrutura. Foi horrível, não tinha onde me trocar, tive que achar moitas no meio do caminho. E me machucou porque estava calor, mais o suor e o absorvente".
Esta outra recordou as dores: "Nem na academia consigo ir quando a menstruação está bem forte. Cólica, dor de cabeça, cansaço, vontade de ficar deitada. Odeio me sentir assim, parece que tudo foge do controle. Se tivesse prova para disputar, com certeza não iria".
Qualquer mulher se identifica, e tenho certeza de que homens têm empatia. Mas acho que nos acostumamos a pensar que é só nossa a responsabilidade resolver questões ligadas ao nosso corpo. Não quer engravidar? Pílula anticoncepcional, além da camisinha. Cólica antes da prova? Desiste, ou toma remédio e aguenta.
Quem está à nossa volta pode contribuir para um ambiente inclusivo. Em provas amadoras, pensar em banheiros químicos, lenços umedecidos, absorventes. Na área científica, pesquisas para entender melhor os efeitos nas atletas.
Os organizadores da Maratona de Londres disponibilizam absorventes na largada e, a partir de 2023, criarão um guia sobre corrida no período menstrual. No futebol inglês, o West Brom mudou a cor do short do time feminino de branco para azul-marinho depois de consulta às jogadoras, que se sentiam desconfortáveis em vestir cores claras quando estavam menstruadas. A seleção feminina da Inglaterra, que usa branco, também chamou a atenção sobre o problema.
Vejo e acredito que caminhamos em direção a uma sociedade mais progressista neste sentido. Um bom jeito de desmistificar algo tão comum é conversar sobre o assunto.
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