Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Mathias Alencastro
Descrição de chapéu Eleições 2018

Brasil tem todas as condições de regressar ao palco mundial em 2019

Se voltar ao poder com Haddad, PT terá que repensar suas alianças globais

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É simbólico Fernando Haddad ter assumido a chapa presidencial do PT na semana que marca os dez anos da deflagração da crise financeira global. Para o partido, esse momento chave da história remete a duas memórias distintas.

O ano de 2008 lançou a melhor fase da diplomacia do governo Lula (2003-10), que aproveitou as tribulações no Atlântico Norte para reforçar a presença do Brasil nas instituições de Bretton Woods, desenhadas após a Segunda Guerra. 

Lula armou uma aliança heteróclita que incluía o bolivariano Hugo Chávez, o neoconservador Nicolas Sarkozy e até Dimitri Medvedev, que então liderava o período de maior abertura da era Putin na Rússia.

O mesmo 2008, no entanto, também é o começo da ofensiva conservadora contra as democracias que redesenhou ordem internacional. 

No seu atual programa de governo, o PT ambiciona retomar a política externa elaborada por Lula e descontinuada pelos seus sucessores. Para afrontar o mundo que emergiu da crise financeira, será imperativo desenvolver uma rede de alianças totalmente nova. 

Na América Latina, os antigos aliados alternam entre ingovernabilidade e caos completo. Com a adesão à Otan (aliança militar ocidental) e à OCDE (que reúne os países mais ricos), a Colômbia virou-se para o Atlântico Norte

Todavia, a entrada em cena de Andrés Manuel López Obrador no México em dezembro e as dificuldades da alternativa ensaiada por Mauricio Macri na Argentina abrem espaço para uma nova política regional. 

As prioridades seriam a busca de uma resposta conjunta à diplomacia americana e de uma solução interna para a crise na Venezuela.

O regresso à normalidade democrática promovido por um eventual governo Haddad seria o ponto de partida para a reaproximação com a Europa. 

Haddad poderia contar com o primeiro ministro português, António Costa, um aliado muito influente —o seu ministro Mário Centeno preside o Eurogrupo, a principal instância financeira da UE. Nas relações com a França, Haddad teria a vantagem de começar do zero. Emmanuel Macron aguarda a eleição do novo presidente brasileiro para definir a sua estratégia para a América Latina.

Não menos importante, a próxima cimeira será a última cartada para resgatar o Brics da obsolescência.

Relegado a um papel secundário por uma China com ambições globais, o grupo corre o risco de tornar-se mera entidade legitimadora de autocracias se confirmada a adesão da Turquia

Uma parceria com o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, que tem perfil semelhante ao de Haddad, poderia ser o motor para a reorganização dos Brics em torno dos seus membros democráticos.

A África do Sul seria o exemplo a seguir pelo governo do PT. Referência do Sul Global, o governo do Congresso Nacional Africano afundou sob o comando de Jacob Zuma.

Com um discurso democrático e reformista, Ramaphosa, apelidado de “Ramaphoria” pelo otimismo que suscita, conquistou a opinião internacional e reverteu um quadro dramático em poucos meses.

Ao contrário do que a melancolia ambiente sugere, o Brasil tem todas as condições de regressar ao palco mundial em 2019 de forma tão surpreendente como foi o seu afastamento a partir de 2011.

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