Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Mathias Alencastro
Descrição de chapéu União Europeia

Macron triunfa no 1º turno, mas eleição na França continua em aberto

Palavras de Mélenchon foram as mais importantes da noite eleitoral, porque pela 1ª vez vitória da extrema direita não pode ser descartada

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Emmanuel Macron é o vencedor incontestável do primeiro turno da eleição. O bom desempenho, acima do que apontavam as pesquisas dos últimos dias, deve-se a dois fenômenos.

O "efeito bandeira", termo que os franceses usaram para descrever a adesão de eleitores ao chefe de Estado após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Com 28,4%, Macron voltou à sua popularidade do começo de março, quando o conflito mudou a vida dos europeus. Em seguida, o voto útil, caracterizado pela transferência de votos dos candidatos dos partidos social-democratas para o centrista nos últimos dias.

O presidente da França, Emmanuel Macron, candidato à reeleição, após os resultados do primeiro turno, em Paris
O presidente da França, Emmanuel Macron, candidato à reeleição, após os resultados do primeiro turno, em Paris - Benoit Tessier/Reuters

Tal como aconteceu em Portugal no começo do ano, a ameaça cada vez mais real da extrema direita parece ter alterado o cálculo do eleitor moderado. Mas a principal informação do primeiro turno é que o sistema político que governou a França por 40 anos está definitivamente sepultado.

O Republicanos alcançou miseráveis 4,8% com Valerie Pécresse, enquanto a socialista Anne Hidalgo não passou de 2%. Um último ato melancólico para os partidos de Jacques Chirac e François Mitterrand.

A implosão dos dois principais partidos deve ser levada em consideração ao fazer projeções futuras. Segundo e terceiro colocados, Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon partilham um eleitorado semelhante.

A expoente da extrema direita, que vai disputar o segundo turno com Macron em 24 de abril, manteve a sua base popular, construída depois de anos de implementação de sua agenda nacionalista nas regiões pós-industriais, e ganhou espaço na direita republicana com a sua estratégia de normalização, descrita na coluna passada. Já Mélenchon se beneficiou do fracasso socialista e ecologista e melhorou o resultado de 2017 (19,5%), agora com 21,7% dos votos.

Mas o eleitorado de Mélenchon, que ficou na frente entre os eleitores de 18 a 34 anos, mudou muito nos últimos anos. Os militantes desiludidos do Partido Socialista, que ele representou por décadas, deram lugar à geração que mergulhou na política depois de 2008. Para muitos desse grupo, que andavam de calça curta quando a República se uniu contra Jean-Marie Le Pen em 2002, a prioridade é o combate contra o capitalismo predatório que eles acusam Macron de encarnar.

A vitória clara do atual presidente no primeiro turno traz garantias contra um acidente democrático, mas a eleição continua em aberto. A frente republicana que aconteceu em 2002 e 2017, quando os Le Pen chegaram ao segundo turno, não foi apenas o resultado de uma romântica rebelião democrática popular.

Ela dependeu da liderança decisiva da classe política, da força mobilizadora dos partidos e dos sindicatos e da memória histórica dos franceses que combateram o fascismo no passado. Num sistema político completamente desestruturado, marcado pelo risco de uma convergência entre eleitores de Le Pen e Mélenchon, a repetição desse movimento está longe de ser garantida.

Ao proclamar quatro vezes que "vocês não devem dar um voto a Le Pen", o líder da França Insubmissa mostra que estará à altura da sua responsabilidade histórica, ao contrário de muitos outros.

As palavras dele foram as mais importantes da noite eleitoral. Porque, pela primeira vez, a vitória da extrema direita ainda não pode ser descartada depois do primeiro turno.

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