Descrição de chapéu União Europeia

Macron e Le Pen vão duelar no 2º turno da eleição presidencial na França

Abstenção é estimada em 26%, índice mais alto desde 2002 e quase 4 pontos acima de 2017

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Milão

Assim como há cinco anos, o segundo turno da eleição presidencial da França será disputado entre Emmanuel Macron, 44, e Marine Le Pen, 53. Neste domingo (10), os dois despontaram na apuração como os mais votados entre 12 candidatos e, assim, voltarão a se enfrentar em 24 de abril.

Com 96% dos votos contados, o presidente centrista tinha 27,4%, ante 24% da candidata da ultradireita. Em terceiro lugar, vinha o ultraesquerdista Jean-Luc Mélenchon, com 21,6%

Eleitores em fila para votar no primeiro turno da eleição presidencial francesa, em Lyon
Eleitores em fila para votar no primeiro turno da eleição presidencial francesa, em Lyon - Jeff Pachoud/AFP

No primeiro turno de 2017, Macron obteve 8,6 milhões de votos, com 24% dos válidos, enquanto Le Pen somou 7,7 milhões, com 21%. Pesquisa divulgada neste domingo, da Ipsos, aponta vitória de Macron por 54% a 46% no segundo turno. Em 2017, ele derrotou Le Pen por 66% a 34%. A última vez que um presidente francês conseguiu a reeleição foi há 20 anos, com o conservador Jacques Chirac.

Cerca de 49 milhões de eleitores estavam habilitados a ir às urnas, mas a abstenção, estimada em 26%, é mais alta do que há cinco anos, quando atingiu 22,2% —na França, o voto não é obrigatório. A abstenção neste domingo só não é maior que a de 2002, quando a taxa foi de 28,4%.

Os principais candidatos votaram pouco antes da hora do almoço. Por volta das 11h, Mélenchon foi à urna na cidade de Marseille. Pouco depois foi a vez de Le Pen comparecer à sua seção, em Hénin-Beaumont, no norte do país. Acompanhado da mulher, Macron votou pouco antes das 13h em Le Touquet, também ao norte da França. Os três se dirigiram depois para Paris, onde vão acompanhar a apuração.


Resultados do 1º turno da eleição francesa, com 96% das urnas apuradas

Macron 27,4%
Le Pen 24%
Mélenchon 21,6%
Zemmour 6,9%
Pécresse 4,7%
Jadot 4,4%
Lassale 3,2%
Roussel 2,3%
Dupont-Aignan 2,1%
Hidalgo 1,7%

Fonte: Instituto Ipsos


Logo após a divulgação dos primeiros números, as candidatas Valérie Pécresse e Anne Hidalgo anunciaram apoio a Macron. Elas representam os partidos mais tradicionais do país, que, nesta eleição, obtiveram números ínfimos —a republicana Pécresse tinha 4,7%; a socialista, prefeita de Paris, 1,7%. O verde Yannick Jadot (4,4%) e o comunista Fabien Roussel (2,3%) também se posicionaram a favor do presidente.

O resultado do primeiro turno reflete em parte as pesquisas divulgadas na véspera da votação, que davam 26,5% para Macron, 3,5 pontos à frente de Le Pen. A diferença entre os dois, que chegou a ser de 16 pontos no começo de março, foi diminuindo de forma constante na reta final da campanha. No final, os pouco mais de 27% do incumbente surpreenderam quem esperava uma disputa muito parelha.

Foi só às 21h45, no horário local, que Macron subiu ao palco para se dirigir a uma entusiasmada plateia no centro de exposições Porte de Versailles, em Paris. Em uma fala de 15 minutos, disse que, se eleito, vai levar adiante o projeto de uma França independente, numa Europa forte, sem populismo nem xenofobia.

Agradeceu a todos os candidatos derrotados, menos sua adversária, e afirmou que o único projeto crível sobre o poder de compra, que virou o tema central desta campanha, é o seu. "Sei que alguns votarão em mim para barrar a extrema direita, não para apoiar meu projeto. Eu respeito isso."

Antes, por volta das 20h30, Le Pen subiu ao palco do pavilhão Chesnaie du Roy, no parque Floral, em Paris, onde seus apoiadores comemoravam, para agradecer aos eleitores que viram ela como a mais qualificada para derrotar Macron. "O segundo turno será uma escolha fundamental entre duas visões opostas: divisão e desordem ou a mobilização do povo francês em torno da justiça social", disse.

Segundo analistas, Le Pen se beneficiou de uma campanha centrada em temas relacionados ao custo de vida, impactado nos últimos meses por uma inflação que atingiu 5,1% em março. Além disso, soube suavizar seu discurso extremista, deixando em segundo plano ideias como a saída da França da União Europeia. A presença de Éric Zemmour na disputa, ainda mais à direita, também fez com que a candidata ganhasse um verniz moderado. Quarto lugar com 6,9%, ele pediu votos para Le Pen.

O programa da ultradireitista, no entanto, continua radical, com propostas anti-imigração, como a realização de um referendo para assegurar a prioridade dos franceses no acesso a habitação social e emprego. Outra promessa é "erradicar ideologias islamistas" do país e multar mulheres que usem véu. "É uma medida que os franceses estão pedindo", disse ela, na semana passada.

Macron, por sua vez, começou a campanha em alta nas pesquisas, colhendo os frutos do seu protagonismo nas conversas diplomáticas em torno da guerra na Ucrânia, que teve início uma semana antes de ele confirmar que seria candidato à reeleição. Empenhado no cenário internacional e confiante na momentânea vantagem nas intenções de voto, sua campanha se limitou a um único grande comício com eleitores, e ele não participou de debates frente a frente com adversários.

Além disso, especialistas avaliam que o presidente não se aprofundou em propostas para aliviar questões relacionadas ao poder de compra, a maior preocupação dos franceses no momento. Por outro lado, encampou ideias impopulares, como o aumento da idade mínima da aposentadoria, de 62 para 65 anos.

A partir desta segunda, os dois adversários vão intensificar a busca de votos entre eleitores da esquerda, especialmente os que escolheram Mélenchon nesta primeira votação.

Em discurso diante de apoiadores, o ultraesquerdista pediu que seus eleitores não votem em Le Pen. "Sabemos em quem nunca votaremos. Não devemos dar voto para a madame Le Pen", disse ele.

A manifestação é considerada menos ambígua do que em 2017, quando, em quarto lugar, não declarou voto em Macron —limitou-se a dizer que não votaria em Le Pen. Seu partido fez uma consulta interna, e a maioria dos filiados decidiu que o melhor era votar em branco ou nulo.

Apesar de diferenças ideológicas, os programas do ultraesquerdista e da ultradireitista têm pontos em comum, como a idade da aposentadoria –ele defende baixá-la para 60 anos para todos, e ela, para algumas categorias. Ambos também têm posicionamento anti-Otan, a aliança militar do Ocidente, e contra o "globalismo" de Macron, além de terem apoiado, no passado, o presidente russo, Vladimir Putin.

Já Macron, que, ao assumir, anunciou o início de uma era "ni de droite ni de gauche", ou seja, nem de direita nem de esquerda, conta com rejeição na ala mais à esquerda, que o considera mais à direita, por seu programa de reformas liberais e um comportamento político visto como excessivamente vertical.

Se, em 2017, sua vitória contou com o voto útil de eleitores mais interessados em barrar a chegada da ultradireita ao Eliseu do que por convicção em torno dele, neste ano especialistas e integrantes de movimentos de esquerda colocam em dúvida a adesão de uma "frente republicana" no segundo turno.

Segundo pesquisa Ipsos divulgada na véspera do primeiro turno, entre os que declaravam voto em Mélenchon, 37% disseram que vão se abster num segundo turno entre Macron e Le Pen; outros 36% indicaram preferir o atual presidente; e 27% escolheriam a ultradireitista.

De forma geral, a campanha presidencial foi atípica, considerada sem precedentes no histórico recente francês. A pandemia de coronavírus, que já dura mais de dois anos, impediu que temas eleitorais tivessem espaço no debate público, que acabaram ofuscados também pelo conflito no Leste Europeu. Essa é uma das explicações para o desinteresse dos eleitores.

Esta é a terceira vez que Le Pen disputa a Presidência. Além de 2017, quando foi derrotada por Macron, em 2012 ela ficou em terceiro lugar, com 18%. Já Macron concorre pela segunda vez.

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