Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Mathias Alencastro
Descrição de chapéu Eleições 2022

Avanço de Bolsonaro encerra história da direita moderada no Brasil

País deve se preparar para uma politica conflagrada, instável e imprevisível

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Três consequências imediatas podem ser retiradas da resiliência, e talvez até do avanço, da direita bolsonarista no Congresso. No que pode ser um paradoxo, ela praticamente erradica o risco imediato de ruptura autoritária.

As vitórias das principais lideranças ideológicas do movimento garantem um espaço político privilegiado para Bolsonaro e seus aliados. Nesse contexto, o incentivo para uma aventura fora do jogo institucional se extingue sozinho.

Montagem das fotos de Lula, votando em São Bernardo do Campo, e Bolsonaro, que votou no Rio - Mariana Greif/Reuters e Eduardo Anizelli/Folhapress

Em seguida, o avanço bolsonarista encerra a história da direita moderada no Brasil. Predominava a impressão de que a direita, outrora unificada na grande tenda do PSDB, havia se dividido entre três direitas. A social, que aderiu à base petista via Alckmin, a liberal, que tentou se viabilizar eleitoralmente com João Doria e depois Simone Tebet, e por fim a bolsonarista.

A ilusão de que o poder eleitoral das três direitas seria redistribuído nesta eleição foi estilhaçada logo nos primeiros minutos de contagem dos votos. A derrota abismal de Rodrigo Garcia em São Paulo confirma o desaparecimento sociológico de uma categoria política, o eleitor de direta moderada.

Esse fenômeno tem sido observado em quase todas as democracias ocidentais, mas ele se manifesta no Brasil na sua forma mais extremada. À imagem de Trump, Bolsonaro estabeleceu uma hegemonia ideológica sob toda a direita, a despeito da fragilidade da sua base partidária.


Por último, o resultado do primeiro turno cria uma situação de altíssima ingovernabilidade devido ao diálogo quase impossível entre um eventual governo Lula e uma parte significativa do Congresso.

Esse impasse ameaça agendas cruciais para a recuperação do Brasil e para a própria condição humana, começando pela ciência e o meio ambiente.

A partir de hoje, o Brasil deve se preparar para uma arena política conflagrada, instável e imprevisível, à imagem da francesa depois da reeleição de Emmanuel Macron ou da norte-americana após a eleição conturbada de Joe Biden.

Apesar de Lula ter chegado perto da vitória no primeiro turno, o segundo turno deve ser apreendido como uma disputa aberta e competitiva entre Lula e Bolsonaro. O discurso de frente ampla ganha uma importância existencial, e todos os esforços devem ser feitos na direção da formação de uma coalizão democrática o mais ambiciosa possível.

Pesa nas lideranças históricas de centro e centro-direita a responsabilidade de garantir a transferência de votos do que resta de eleitores avessos ao bolsonarismo para a candidatura de Lula. O risco é real de uma vitória de Jair Bolsonaro no segundo turno e de uma captura definitiva das instituições por atores sem compromisso com a democracia.

Para todos os observadores da política nacional, a capacidade demonstrada pela direita bolsonarista de mobilizar o eleitorado por baixo do radar das sondagens, dos canais de televisão, da imprensa e da sociedade civil nos obriga a repensar em profundidade a forma como a democracia é praticada no Brasil.

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