Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mathias Alencastro
Descrição de chapéu Eleições 2022

Jair Bolsonaro é de extrema direita

Em meio ao risco de violência política, ausência desse debate atrasa a reconstrução da direita moderada

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Muito além das variações nas sondagens, a desvinculação de Jair Bolsonaro (PL) da reserva inerente à instituição presidencial foi o verdadeiro fato político da semana do 7 de Setembro. Um processo simbólico, lançado pelo seu discurso abjeto no palanque oficial de Brasília, e prático, com a multiplicação da violência associada ao seu movimento.

Ela se manifesta a nível local, com o assassinato de pelo menos dois militantes de esquerda por apoiadores de Bolsonaro, e nacional, pela multiplicação das ameaças contra lideranças estaduais e nacionais. O presidente sempre jogou na ambiguidade quando foi instado a condenar esses atos, como se estivesse deixando em aberto a possibilidade de um dia avalizá-los.

Apoiadoras de Jair Bolsonaro em frente a bandeira com o rosto do presidente em ato na avenida Paulista - Nelson Almeida - 7.set.22/AFP

Esses incidentes das últimas semanas precisam ser debatidos. A sociedade brasileira sofre de muitas patologias, mas a violência política jamais ganhou a amplitude de países como a Colômbia.

Os efeitos dessa escalada estão sendo sentidos no cotidiano da campanha. Como a Folha tem reportado, os eleitores dos candidatos democráticos, sobretudo mulheres e negros, estão com medo de sair às ruas. Predomina nas grandes capitais o clima de iminência de um acidente grave, que lembra o do Reino Unido em 2016.

Envenenada pelas mentiras dispersadas nas redes sociais, a disputa pelo referendo do brexit terminou com o assassinato da trabalhista Jo Cox por um indivíduo ligado a grupos extremistas. O trauma é lembrado até hoje pela perda de confiança da população na democracia.

Nesse contexto de radicalização acelerada, preocupa a hesitação do jornalismo brasileiro em desviar as convenções internacionais e continuar chamando Jair Bolsonaro de candidato de direita, ultradireita ou populista.

A ausência de uma associação do bolsonarismo à extrema direita, a sua corrente histórica, que tem raízes no Integralismo, já foi abordada nesta coluna e discutida em outras ocasiões neste jornal. Ela tem sido justificada pela necessidade de distinguir entre política institucional e luta armada ou pelo imperativo de impedir que a direita se tornasse o único polo a ser associado à violência política.

Essas justificações há muito deixaram de fazer sentido. À imagem dos Estados Unidos, o Brasil saiu do processo de polarização, marcado pelo acirramento de posições entre PT e PSDB, e entrou em outro, o da radicalização, liderado exclusivamente por Jair Bolsonaro.

Esse debate tem implicações práticas e imediatas. Posicionar o bolsonarismo na extrema direita é necessário para demarcar o campo conservador e criar incentivos contra novas alianças oportunistas. Como ficou claro na recente deserção do prefeito de Marília (SP), noticiada no Painel, políticos da base de Rodrigo Garcia (PSDB) já parecem dispostos a abandonar a herança de Bruno Covas, o único tucano a estabelecer a diferença entre as direitas, e dar sustentação a um projeto de poder em São Paulo que negou vacinas durante uma pandemia e tenta derrubar a Nova República.

A ausência de um debate sobre as direitas acaba atrasando a reconstrução da direita moderada, o desafio mais urgente e universal para a sobrevivência das democracias liberais. Os formadores de opinião precisam explicitar a extrema direita para impedir que o momento histórico do país se instale na permanência.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.