Descrição de chapéu Governo Biden

Biden ensaia respiro em meio a operação contra Trump

Democrata destrava pauta no Congresso e melhora índices; republicanos falam em perseguição contra ex-presidente

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Washington

A operação de busca na casa do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, nesta segunda-feira (9), foi o movimento público mais ousado até aqui nas investigações do Executivo que apuram possíveis crimes cometidos pelo republicano. A ação ocorre em meio a uma semana de relativo respiro para o atual mandatário, Joe Biden, que convive com popularidade vacilante.

Trump reclamou, mas o mesmo FBI de quem pediu lealdade no começo de seu mandato até agora não veio a público para explicar os motivos da operação. Citando fontes nos setores de inteligência, a imprensa americana aponta que os agentes buscavam documentos secretos que o ex-mandatário teria retirado de forma indevida da Casa Branca ao deixar o governo.

Republicanos e a mídia favorável a Trump falam em perseguição política, mas chamou a atenção a prova de força do Departamento de Justiça dos EUA, que já vinha intimando auxiliares e pessoas próximas do ex-mandatário para apurar seu envolvimento no ataque ao Capitólio de 6 de janeiro de 2021, abrindo espaço para uma possível investigação criminal.

O presidente dos EUA, Joe Biden, ao assinar lei de incentivo a produção de semi-condutores nesta segunda-feira na Casa Branca - Saul Loeb/AFP

Se confirmado o confisco ou a destruição de documentos da Presidência, Trump pode, no limite, responder penalmente e até ser proibido de ocupar cargos públicos, o que inviabilizaria s​eu projeto de disputar as próximas eleições, em 2024.

O governo americano afirmou nesta terça (10) que nem Biden nem a Casa Branca foram informados previamente sobre a operação. No fim da manhã, Trump divulgou um vídeo em tom de campanha em que não cita o caso, mas ataca a gestão democrata e finaliza dizendo que "o melhor ainda está por vir". Mais tarde, mobilizou seguidores pedindo doações afirmando: "Estão tentando parar o Partido Republicano e a mim mais uma vez".

A operação ocorreu um dia depois de Biden finalmente destravar um de seus principais projetos no Senado, mostrando que o democrata ainda tem algum controle, mesmo que claudicante, sobre sua base. No domingo (7), o Senado aprovou um grande pacote ambiental e tributário, após meses de negociação com democratas. A aprovação representou um imenso alívio para Biden a três meses da eleição legislativa que pode reverter sua estreita maioria no Congresso.

O pacote, oficialmente chamado Lei de Redução da Inflação, aumenta impostos de grandes empresas, destina US$ 370 bilhões (R$ 1,89 trilhão) a programas de energia sustentável e corte de emissões de poluentes e subsidia remédios para a população idosa no seguro federal de saúde Medicare.

Até domingo, essa era a maior dor de cabeça dos corredores democratas no Congresso. Isso porque dois dos senadores da legenda, Krysten Sinema e sobretudo Joe Manchin, vinham manifestando discordâncias em público em relação ao volume de gastos, citando o risco inflacionário.

O acordo avançou para ser consolidado no sábado (6), em uma rara sessão legislativa aos fins de semana. Foram 27 horas de debates até a lei ir a votação e ser aprovada no domingo —na Câmara, onde os democratas têm mais margem de manobra, o texto deve ser analisado já nesta semana.

Apesar das ambiciosas metas do projeto, a maior aposta é a curto prazo, no subsídio para medicamentos. Questionado nesta segunda sobre eventual impacto positivo para os democratas nas midterms, Biden: "Sim, [o terá] imediatamente. É coisa grande, muda a vida das pessoas".

O projeto era especialmente importante para levar a cabo a plataforma de reformas com que Biden foi eleito, com previsão inicial de gastos de US$ 3,15 trilhões (R$ 16,1 trilhões) em programas sociais, ambientais e de infraestrutura —os impasses com a base democrata no Congresso enterraram parte substancial do chamado BBB ("Build Back Better"), e só os investimentos em infra foram aprovados em 2021.

Ainda que o texto aprovado no Senado neste domingo represente apenas uma fração do valor desejado, com previsão total de US$ 430 bilhões (R$ 2,2 trilhões) em reformas, o projeto ainda tem sido visto como prova de fôlego do presidente.

A vitória não foi nem a primeira boa notícia para Biden no domingo. Na data, o democrata finamente deixou o isolamento após contrair o coronavírus —ele confirmou a infecção em 21 de julho, teve testes negativos por quatro dias na semana seguinte e em 30 de julho voltou a apresentar resultado positivo. "Estou me sentindo ótimo", disse, antes de pegar um avião para Rehoboth Beach, em Delaware.

Biden ainda tem visto com alívio a melhora em índices econômicos, em meio à tensão com a possibilidade de recessão do país. O preço médio da gasolina, que em meados de junho passou de US$ 5 (R$ 26) o galão, voltou a retroceder e nesta segunda-feira saía a US$ 4,04 (R$ 21) nos postos, mesmo patamar do começo de março, mas ainda distante do período pré-Guerra da Ucrânia —1 galão corresponde a 3,8 litros.

Outro dado que tranquilizou o democrata foi a divulgação dos dados de desemprego na última sexta (5). Analistas previam que a taxa voltaria a subir além dos 3,6%, dado mais recente até então, depois que grandes empresas divulgaram números ruins de criação de emprego.

Mas o Departamento de Estatísticas do Trabalho trouxe um número ainda menor, de 3,5% —o desemprego chegou a 14,7% da população adulta em abril de 2020, no começo da pandemia de Covid-19. Na média anual, a última vez que o país viu um índice menor do que esse foi em 1968.

Na última semana, Biden ainda teve o que mostrar à população americana no combate ao terrorismo —ainda que mais simbólica do que efetivamente, esses movimentos na política externa tendem a render frutos no país. O governo americano anunciou no dia 1º que matou o líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, um dos responsáveis pelos atentados de 11 de Setembro de 2001.

É claro que também houve reveses nos últimos dias, o mais chamativo deles sendo o fato de não ter conseguido convencer a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, a desistir da viagem até Taiwan, o que fez aumentar de forma expressiva as tensões entre China e EUA.

De todo modo, a série de boas notícias chama a atenção pelo contraste com a dificuldade que vinha tendo até aqui em aprovar reformas e conter a inflação galopante e a queda no PIB —em dois trimestres consecutivos, nos dados mais recentes.

Biden é um dos presidentes mais impopulares dos EUA a esta altura do mandato. Segundo o monitor de pesquisas de opinião do site FiveThirtyEight, o democrata tem 39,6% de aprovação nesta terça (9), índice ligeiramente superior ao de 37,5% que registrou em 21 de julho, ponto mais baixo até aqui.

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